domingo, 3 de outubro de 2021

Nina

 Nina


Nunca mais me procure. Risque meu novo seu idiota! Este foi o desabafo de uma garota por volta de 20 anos, loira, estatura mediana, vestindo jeans, camiseta baby look branca com uma jaqueta de fio sintético de cor dourado brilhante. Na cabeça uma boina de feltro de cor azul petróleo. Colocou a mochila nas costas, destas que as garotas usam. Para reforçar seu descontentamento, ao chegar ao portão da casa chutou com força  para abrir. Não deu certo. O portão era de correr. Só conseguiu quebrar o salto do sapato. – FDP até isso me dá prejuízo. A esta altura a vizinhança fofoqueira estava espiando pelas janelas. Um gordo aposentado saiu com a pança à mostra saber do que se tratava. Fez menção de se intrometer e puxar conversa. Vai pra dentro véio fofoqueiro que isto não é de sua conta. Rapidamente o vizinho entrou na casa dele e foi direto para a cozinha onde comentou com a esposa. A peleia foi feia, o piá deve ter pisado na bola.


Incomodada com a situação, salto quebrado não tinha como descer a rua, um aclive acentuado em direção a avenida principal para pegar o ônibus. Ela tirou os sapatos, enfiou tudo na mochilinha, teve cuidado de recolher o salto para mandar consertar no sapateiro perto de onde trabalha, numa loja do centro de Joinville. Ele iria deixar novo, afinal ainda está pagando as prestações. Ela ainda ouviu o namorado, ou ex-namorado, ou ficante, nos tempos de hoje nunca se sabe qual tipo de relacionamento está ocorrendo, chegar perto do portão e fechar novamente já que ela deixou escancarado. Ele insensível, como se nada tivesse acontecido fazendo cara de paisagem abanou aos vizinhos deu bom dia como se estivesse tudo normal, mas todos sabiam que algo tinha ocorrido na casa da esquina que as vezes tem movimentação sempre de moças diferentes. Esta última até que durou uns 4 meses.


Ele ainda arriscou um quer que eu te leve?  Deveria ter ficado de boca fechada. Leve você para o quinto dos infernos seu FDP, gritou a garota do meio da rua descendo a ladeira com dificuldades e descalça. Com cara de quem caiu do caminhão de mudanças, meio desenxabido entrou em casa e ficou o resto do dia quieto. Fechou janelas, e os vizinhos só ouviam ao longe um som de vinil lamentoso. Nem adianta explicar os efeitos de John Lee Hooker, BB King, Ray Charles, Etta James, Aretha Franklin entre outros. No silêncio da madrugada às vezes a vizinhança ouvia um som de cristal quebrado e um uivo longo. Lá se foi outro copo cambaleante ao chão, partindo em mil pedaços como seu coração.


Na manhã seguinte, a vizinhança preocupada olhava a casa de esquina, deram a volta para ver, como quem não quer nada, se viam algo ou vestígio. Apenas ela, a Nina, que desceu do sofá da sala, a porta da frente que dá para a garagem ficou aberta a noite toda, deitou na brita em frente a casa. O dia amanhecendo, o sol surgindo Nina com seu reluzente pelo negro aquecia o corpo e deixava sua pelagem ainda mais brilhante.  Foi testemunha de todo o sofrimento de seu dono, mas ela havia se apegado aquela mocinha simpática.

Nina cansou de lamber o focinho do dono para acalentá-lo, ou quem sabe acordá-lo. Ela imaginava o que havia ocorrido, mas sabia, também, que não foi a primeira e nem seria a última vez. Sabia que mais tarde ele acordaria com o focinho amassado.


Nina apenas lamentava que aquela garota  agradável de mochila foi embora. Ela sempre trazia um biscoitinho de polvilho que comprava na padaria ali perto. Nina, chegava perto do portão, cheirava, olhava para ver se ela voltava, mas nada. Assim passou o dia. Afinal tinha se apegado à garota do biscoito de polvilho. O que houve com o Don Juan? É conhecido hoje como gênio. Não pelos seus feitos, mas por viver dentro da garrafa, resultado de um amor desfeito. Só restou a Nina para acalentá-lo. Bem que ele poderia agradar comprando biscoitinhos de polvilho.



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