Piá do Djanho
Não tive o privilégio de ter filhas. Mas Deus escreve certo por linhas tortas. Tive dois garotos e é melhor assim. Se fosse menina, imagina os cuidados. Ela seria solteira a vida toda, pois ninguém estaria à altura. No mínimo um ano de namoro aos domingos, no sofá de casa acompanhado da família. Mas o causo é sobre dois amigos e colegas.
Nesta semana nasceu a primeira filha de um colega de trabalho e ao parabenizá-lo lhe contei o acontecido com o Alberto, que bem casado com uma esposa muito inteligente, trabalhadora e bonita tiveram duas filhas igualmente estudiosas, mais bonitas que laranja de amostra e inteligentes. Notas boas, iam bem nos estudos e tinham um belo futuro.
Vânia já com seus 17 anos terminou o ensino médio e foi para Curitiba estudar na UFPR- Universidade Federal do Paraná e todo final de semana vinha para casa. Pegava o Catarinense em pouco mais de uma hora estava na rodoviária onde o Alberto ia buscá-la. Vinha com a mochila cheia de roupas da semana para serem lavadas, mais seu notebook e livros que se dedicava aos estudos. Também saia com as amigas em alguma balada joinvilense, mas não era muito afeita a noite.
De uns tempos em diante começou a vir para casa dos pais a cada 15 dias, foi espaçando, depois um mês e por fim vinha a cada meio ano. Só lembrava o pai na data de pagar a faculdade e mandar dinheiro do aluguel e alimentação.
Alberto comentava com a esposa Neusa, bela com seus 40 e poucos anos, loira natural cabelo curto, corpo bem torneado, olhos azuis e muito delicada em tratar os assuntos. Acho que ele nem a merecia. Como dizem popularmente era muito areia para o caminhãozinho dele. Mas a mãe de Vânia, sempre botando panos quentes. Alberto, deixa disso a menina está estudando, deve estar em provas – argumentava. Mas ultimamente nem me pede mais dinheiro, justificou a preocupação. Esquece este assunto e te prepara que domingo tem visita. Que visita? Perguntou surpreso. Neusa respondeu que a filha iria trazer um “amigo” para conhecerem. Ele fechou a cara, ficou emburrado e sentiu-se traído. Tinham armado uma conspiração.
Chegou o dito domingo, que por coincidência, apesar de alguns acreditarem que não existe coincidência, era também Dia de Nossa Senhora Aparecia, padroeira do Brasil e dia das Crianças. Naquele domingo de sol 12 de outubro, Alberto pulou da cama cedo, já preparou a churrasqueira, deixou o carvão ali do lado, espetos, facas, geladeira abastecida com cerveja de marca boa, gasosinha, e seu uísque que não podia faltar. Não economizou para agradar a visita. Só picanha de angus, costela que ele era especialista em fazer, linguicinha artesanal temperada, pão e fez a mistura de alho com manteiga. Não comprava pronto. Gostava de fazer.
Neusa começou a correr bem cedo, limpando tudo, organizando a mesa, fez sobremesa. Até parecia que iriam receber o Bispo
Lá pelas 10h ouvem um barulho estranho na frente da casa. Se olharam e pensaram: “Vamos ver no que vai dar”. Era uma camionete pampa enferrujada com o sol alto tocando Paixão Proibida de Chico Rey e Paraná. Saltou um chapeludo do lado do motorista e do lado da carona nada mais nada menos que a filha Vânia, com a mochilinha, seu note e nada de livros.
Lá da rua o tal gritou. Bom dias. Nóis viemo num tufo! Já imo entra. Eu truxe umas incomenda que o pai mandou. Se apinchou na carroceria da pampa pegou uma caixa com mandioca, batatas, pepinos, tomates, vidros de compotas de doce de abóbora, de casca de laranja, um saco de bergamota, duas couves-folha. Descarregou também um cooler, deste que levamos para a praia com gelo para a cerveja e refrigerante.
O pai mandou aqui uma paleta de “ovéia” e metade de um “javaporco” que ele cria. Ponhemo tudo ai drento. Vamo subi. Me ajuda aí, ordenou ao pai da moça, o Alberto. Meio a contragosto da folga do rapaz ajudou levar as “incomenda”. Neusa tentando ser alegre sorridente abraçou a filha cumprimentou o amigo e entraram. Guardadas as encomendas a Vânia finalmente apresentou o vivente. Pai, mãe este é o... Ela ia falar e ele cortou. Sou o Jerômo, seu criado. Apertaram as mãos e nem deu tempo de Alberto falar alguma coisa. O tal Jerômo se atirou no sofá, pegou o controle da televisão e ligou no programa esportivo. Queria ver a preleção do Coritiba. Alberto espichou um beiço que demonstrava seu descontentamento. Vânia o pegou pelo braço e sussurrou. Não fala nada. Aguenta, vai lá fora.
Alberto atendeu o conselho da mulher foi lá na piscina, passou a rede para recolher algumas folhas, ligou o aspirador para dar uma limpada e sentou numa cadeira de alumínio daqueles conjuntos de moveis que usam em piscinas. Ao levantar para ir pegar mais uma dose de uísque enredou o pé na cadeira e caiu derrubou a mesinha e fez um barulhão danado. Alberto deitado na calçada à beira da piscina só ouviu o grito que vinha de dentro de casa:
-SUSPEDE A PINGA DO VÉIO, KKKKKKKK. Gritou dando gargalhas o tal de Jerômo. Era um farsante mais de um ano com a filha fazendo sei lá o que em Curitiba, no primeiro dia lhe toma o controle da TV, é torcedor do Coritiba e ainda o reprime dentro de casa quando ele toma um uisquinho. Levantou meio dolorido e foi furioso para a sala pronto para pegar o pescoço do sujeito.
Entrou na sala a filha ao lado do Jerômo toda faceira, a esposa tomando um mate e ai ouviu mais uma:
- Sente aqui meu sogro véio. Sei que o senhor é do Atrético, Mas o Coritiba é bem mior. Vânia chegue pra lá e deixa o véio sentar aqui do meu lado. Agora vamos ver a Missa de Aparecida, sou devoto da Padroeira do Brasil.
Alberto deixou a fúria passar, sentou ao lado do tal Jerômo, viu a missa transmitida pela TV Aparecida até o final e só ficou pensando
- É um piá do Djanho mesmo. Só falta este tongo pousar aqui em casa!
Que Nossa Senhora Aparecida nos Proteja.
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