Bicicleta Voadora
Esta semana recebi de meu sobrinho Fábio Pichler, que mora em Erechim, uma novidade bastante avançada. Um tal de ônibus espacial fabricado em terras gaúchas. Ele que já trabalhou em uma fábrica de ônibus, pode falar com repertório de conhecimento. Mas o maior cagaço foi quando um ciclone quase pegou a aeronave lá para os lados dos americanos. Sentiu a bombacha mais pesada, se enrolou no pala e gritou dentro do avião: Que venha esse ventinho metido. Quem enfrentou o minuano e geada não tem medo desta garoa que chamam de Katrina e queria se apinchar do jato. Seguraram o vivente porque não sobreviveria a queda e nem ao Katrina. Acho que o poncho de lã não aguentaria também.
Mas o causo é que em breve uma das fábricas gaudérias vai mandar um ônibus para Marte, com tecnologia toda desenvolvida na República do Pampa. Coisa louca de especial movido a carvão, com churrasqueira, tulhas, cagador químico. É só atirar uma pá de cal que some tudo.
No sortimento da cozinha não vai faltar bergamota das costas do rio Uruguai,, erva mate de Erechim, feijão de Sobradinho, arroz de Camaquã, Charque de Alegrete, torresmo de Aratiba e uma pinga de Santo Antônio da Patrulha. Mas nada disso é novidade.
Nos anos 70 a NASA veio antes para conhecer outro invento colossal que correu coxilha. Era uma bicicleta voadora. Isso mesmo. Logo depois que inventaram a tal de Apolo 11 que foram para a Lua, e tem vivente que acha que foi tudo lorota da televisão. Queriam novas tecnologias.
Mas correu a notícia de que um polaco de Cotegipe, meio chegado a este meu sobrinho por parentesco por parte de casamento, tinha inventado uma bicicleta voadora e com fonte de energia renovável e autônoma. Era um falatório um buchincho que fazia eco em todos os cantos. Rádio falava, nas rodas de conversa, no botecos alguém sempre dizia que era fenomenal que tinham conhecido. E vocês sabem, quem conta um conto aumenta um ponto, diz o velho ditado.
Como o assunto engrandeceu, o polaco marcou data para fazer a bicicleta voar. Aquilo se espalhou de coxilha em coxilha. Era gente preparando excursão com ônibus do Zardo que botou carros fazendo rotas de Marcelino Ramos, passando por Viadutos, Gaurama, Áurea, Erechim e até Cotegipe. Outra rota vinha de Nonoai, passando pelo Votouro São Valentim até o destino. Outro grupo vinha de Passo Fundo, cruzando Estação, Getúlio e cortando pela Frinape até pegar a estrada para a terra dos polacos. Era uma poeira que ninguém aguentava. As mulheres nem podiam quarar a roupa no gramado e nem arear as panelas. era uma nuvem de poeira que não dava para ver um palmo diante do focinho. Era muita gente querendo conhecer a bicicleta voadora do polaco.
Num domingo de sol bonito, que tinha festa na Matriz de Cotegipe o padre estranhou. Apenas meia dúzia de carolas na primeira fila. Estavam com um bico de beber água em jarro. Esperavam a missa desde cedo. Elas sempre vinham para ajudar na preparação e só saiam bem depois de todo mundo. Após a celebração ajudavam o padre a guardar tudo, limpar a igreja e fechar as portas. Naquele domingo nenhuma viva alma apareceu. O Padre chegou na porta da igreja olhou para o lado direito na estrada do outro lado do rio que corta a cidade. Era um domingo de sol claro, só viu uma nuvem marrom de poeira. Imaginou. É o Juízo Final. Vamos entrar e rezar.
Mas Genoveva, uma senhora de mais de 80 anos, não se conteve
- É castigo por causa do polaco louco da bicicleta voadora.
- Irmã que está blasfemando, do que se trata?
- Padre, o senhor sabe, todo mundo quer conhecer a bicicleta voadora, tem vindo gente de longe. O Polaco marcou para hoje o vôo da bicicleta. Anda proseando por aí que vai para a Lua.
- Não pode ser, Jesus! Maria e José que Deus nos proteja. Vamos lá ver. Fechem tudo.
Fecharam a Igreja e desceram as escadas. As carolas e o Padre, entraram no fusca do sacerdote e seguiram para a propriedade que fica uns 5 km distante do centro, já num sítio na área rural.
Uma propriedade simples, onde faziam queijo. Algumas vacas, bacias para o coalho, uma moenda para fazer garapa e açúcar amarelinho. Lá nos fundos um riacho de água limpa onde tomavam banho e lavavam as roupas.
Um quilômetro antes o padre já viu o tumulto, a poeira e o povaréu dando risada.
Dá licença, dá licença, ia abrindo caminho o sacerdote.
A poucos metros viu a cena e fez o sinal da cruz:
Deus nos perdoe. Não acredito nisso! bradou em voz alta
Quando viram o padre devidamente paramentado saindo do Fusca todos silenciaram e abriram caminho.
Benção Padre
Deus te abençoe repetia aos fiéis que apreciavam a invenção do polaco. A famosa bicicleta voadora.
-Desce daí meu filho. Você não vai a lugar nenhum.
- Padre, eu inventei ela “avoa”. Vou para a lua que nem os homens do foguete.
- Seu Evanildo. Desce daí que o tempo não está bom para voar para a Lua.
Convencido pelo padre, Evanildo desceu da bicicleta voadora.
Nada mais era do que uma bicicleta normal que ele pendurou em uma árvore com cordas, com duas asas de folhas de bananeira, sustentadas por hastes de cana de açúcar. No bagageiro da Barra Forte Caloi, uma bolsa de lona tipo alforge com um suprimento de queijo, coalhada e garapa para dar “sustança” na viagem. E no guidão um rádio a pilha para saber como seria o Gre-Nal no domingo de tarde.
Como a bicicleta “avoadora” não “avoou” vamos aproveitar o feriadão com chuva e frio. Casa, comida, cama. Bom feriado a todos.
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