Véio Tide e a Donzela
Em dezembro fui até Erechim para rever a parentagem. Pelo menos uma vez por ano, caso sobre alguns cobres, dá para se aventurar. Mas a 7 contos o litro da gasolina fica mais difícil. Melhor nem parar para o lanche durante os quase 600 Kms.
Mas andando pela cidade, que mudou muito nos quase 40 anos que estou vivendo no exterior. Sim, exterior. o Rio Grande do Sul é uma nação à parte. fora disso é estrangeiro. Outro dia relato como é viver em outro país que não seja a terra gaúcha.
Passando pela Prefeitura lembrei de quando estudava no José Bonifácio, onde cursava o segundo grau noturno.Certa noite de frio, no rigoroso inverno ouvi uma conversaiada vindo de umas macegas embaixo de uma árvore que havia na rua entre a Prefeitura e a sede abandonada dos Correios, onde hoje tem um banheiro público e uma repartição municipal.
Nesta esquina quando o dia morria e a noite nascia, umas moças prestavam serviço. Em épocas de pagamento era uma fila de fusca, chevette, corcel, kombi, yamaha 50 cc e bicicletas. Sim, alguns iam pedalando para namorar.
Era mais ou menos quase sete horas da noite, eu indo para aula e de longe vi o fusca de um alfaiate conhecido, que era freguês habitual. E a bicicleta inconfundível do véio Tide, que trabalhou a vida toda na Cotrel. Recebeu o salário, que na época as empresas pagavam em dinheiro dentro de um envelope, e o trabalhador assinava o holerite.
Com a guaiaca recheada, Tide saiu da Cotrel às 18 horas, pedalou uns 1.500 metros e estacionou a enfeitada num poste da Praça da Bandeira. Amarrou com corrente e um cadeado Papaiz grande dos bons. Deixou ali por causa da iluminação para evitar que roubassem, enquanto cumpria uma missão mensal.
Atravessou a praça devagarito, cruzou a rua e chegou em frente a escadaria da Prefeitura. deu a volta no prédio e viu que a sua preferida estava sozinha.
Psiu! Psiu! Vamos conversar? cochichou tide.
Conversar véio? Fala logo o que tu quer? devolveu a moça. Mesmo com frio ela vestia uma blusa decotada, saia curta para cima dos joelhos, Não economizava no perfume e nos adereços. Parecia um bibelô ambulante.
Quero saber se podemos namorar? perguntou ansioso o Véio Tide.
Vai te custar 20 pilas.
Tá bom, vamos onde?
Ela pegou Tide pela mão e o levou embaixo da árvore que ficava colada ao muro dos Correios. Ali era o “ninho de amor”. A árvore protegia do frio, da garoa e da geada na madrugada e embaixo as macegas serviam de colchão, um cobertor pega pulgas servia de colcha para não gelar os corpos. Chegaram na suíte, noite fria mas estrelada. Ela tinha um radinho de pilha que ligava e tentava achar uma estação com música boa para namorar. Na época só havia duas estações a Erechim e a Difusão AM. FM estava engatinhando. Mas como era hora da Voz do Brasil, nem adiantava tentar achar alguma coisa. Nem mesmo a Rádio Gaurama.
Mas os dois foram para baixo do sombreiro que os protegeria do sereno e dos olhos curiosos de quem queria saber mais do que devia.
Mesmo sem música, começou o romance. Tide com as mãos grandes já queria acariciar os cabelos da moça e foi descendo e ela deixando.
Vai devagar que sou donzela. É minha primeira vez aqui. Disse ela carinhosamente ao véio Tide que já havia pago adiantado os 20 pilas.
Seguiram as carícias e ele tentando tirar mais peças de roupas da moça. Até que chegou mais adiante e ele meio nervoso e tonto porque tomou dois copos cheios de vinho tinto da colônia, feito numa vinícola na estrada que vai a Cotegipe. Sempre carregava uma garrafinha na bolsa que prendia no bagageiro da bicicleta. Amarrava bem com borracha de câmara de pneu de bicicleta com ganchos de arama nas pontas para prender, porque é mais elástica e fácil de manusear.
Lá pelas tantas, após uns minutos de sofrência tentando completar o ato, reclamou que estava difícil. Ela candidamente disse para Tide:
-Bobinho, você não sabe nada. é que sou donzela e por isso que está difícil.
O véio que não era bobo e tinha gasto 20 pilas para namorar e estava nervoso por causa da Barra Forte que amarrou na praça do outro lado da rua foi rápido. Meteu a mão no sutiã da donzela pegou os 20 pilas de volta e lascou:
-Donzela é? Se não tirar esta meia-calça não te dou os 20 contos e levantou do ninho de amor, correu pelo lado da prefeitura que havia uma calçada no meio do jardim, atravessou a rua como um raio, desacorrentou a Barra Forte e partiu para o Jaboticabal. Com o frio, 6 km de pedal chegou em casa com os 20 na carteira, mas ainda sonha com a formosa dama.
E vamos viver um ótimo 2022.
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