domingo, 29 de maio de 2022
O goleiro namorador
O goleiro namorador
O sujeito não tinha jeito. Amaurílio, um goleiro profissional de times de futebol. Vindo de Porto Alegre jogou em clubes de todo o Brasil, alto forte, de boa estampa e bom na posição que jogava. Mas, gostava de namorar. É da mesma estirpe de César Maluco, Serginho Chulapa, Paulo César Caju, Renato Gaúcho e tantos outros na história do futebol.
Quando jogou em Joinville, morava em um hotel no centro e defendia as cores do América. Jogou no Barroso de Itajaí e no Hercílio Luz de Tubarão. Quando estava em Itajaí, num sábado, saiu da concentração para dar um rolê pela Brava, Cabeçudas e se aventurou a ir até Balneário Camboriú guiando um Maverick, que consumia o salário na hora de encher o tanque. O Maverick foi um “presente” do patrono do clube na hora da contratação. Hoje seria um presente de grego. Mas o negão estava todo metido no Maverick, braço para fora, relógio de marca, corretão de ouro e camisa estampada..
Voltou na madrugada para o alojamento do Barroso e domingo de tarde enfrentaria o JEC-Joinville Esporte Clube, recém formado. A esquadra entra em campo, Amaurílio todo fardado, luvas, camiseta preta com o número 14, correspondente ao gato no jogo do bicho. Aos 26 minutos do primeiro tempo Amaurílio estava mortinho e o sol era um maçarico no campo em Itajaí. Ressaca pior daquelas que fecha o porto em dias de tempestade.
JEC começou a pressionar e na época o Fontan era a grande estrela do time joinvilense. Meteu um chutão lá do meio do campo e pimba. Gol no time dos peixeiro. JEC 1,Barroso 0. Segue o baile, juiz apita o reinício e não deu três minutos, Fontan recebe a bola num cruzamento e de cabeçada enfia a bola lá onde canta a coruja, raspando o travessão. JEC 2, Barroso 0. Juiz apita para o centro do gramado para recomeçar. Barroso consegue chegar perto da zaga do JEC, mas perde a posse de bola que é lançada para o lado dos itajaienses. Novamente o carrasco Fontan dá um pataço que estufa a rede e Amaurílio, seco, cozido da noite nem vê a bola, passou como um meteoro. Resultado do primeiro tempo Joinville 3 x 0 Barroso.
Na segunda-feira o goleiro namorador, já vendeu o Maverick e seguiu rumo a São Paulo. Tratou de se enturmar e passou a frequentar a Escola de Samba Império de Casa Verde do bicheiro Chico Ronda. Tocava tamborim e no primeiro dia de ensaio cresceu o olho na passista da escola de samba. Morena linda, medidas perfeitas e desfilava em cima de um salto alto, toda graciosa e protegida pelo porta-bandeira. Mas, tamborim daqui, passinhos de lá, em pouco tempo a rainha da escola estava faltando nos ensaios e sendo vista em Ilha Bela, Guarujá e São Sebastião.
Um segurança da escola encostou no Amaurílio e deu a letra:
Ei três a zero, vaza! Pede pra sair que o patrono tá sabendo da tua amizade com Edicreusa, nossa passista, nossa rainha. Disse o segurança, um sujeito que mais parecia um cofre quadrado.
Tá enganado. não fiz nada- argumentou Amaurílio, só imaginando a orelha zunindo se o guarda-roupas de 8 portas e maleiro resolvesse entregar o recado do patrono.
Patrono sabe, e Edicreusa falou da tua coleção de camisetas de clubes de futebol e mostrou o chaveirinho do Hercílio que tu deu pra ela. Ali a conversa terminou. Mal largou o tamborim e partiu. Mudou de bairro e esqueceu aquela passista.
Fiquei sabendo que hoje frequenta a Escola de Samba Nenê de Vila Matilde, onde se dedica a harmonia. Acho que não se encantou com nenhuma passista e nem com a rainha da bateria. Continua batendo uma bolinha aos domingos de manhã e dando rolê na praia, sempre acompanhado nos domingos de tarde. Não perdeu o vício. Deixa o patrono descobrir….
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Quem será que é?
Quem será que é?
Há 30 anos sou usuário do “postinho” de saúde, que agora inventaram um novo nome, Unidade Básica de Saúde da Família, aqui no bairro Glória. é um simpático postinho com uma equipe pequena e super preparada, atenciosa e educada. Sempre atendem os "velhinhos" e os novinhos também com um sorriso e com cortesia.
Mensalmente retiro remédios, verifico a pressão arterial e mantenho minhas vacinas em dia. E sempre há um grupo de idosos por ali, ou para serem atendidos, pegar remédios ou acompanhar alguém. Esta semana fui me vacinar contra a gripe (influenza). Como sempre fui bem recebido e conferiram minha carteirinha e solicitaram que aguardasse a minha vez. Assim o fiz, e fiquei observando os demais.
Passei os olhos em cada pessoa, Notei um casal da minha rua e um senhor me olhava, fazia menção de me cumprimentar, enfim como se me conhecesse. Confesso que não percebi muito, pois não o reconhecia.
Passados uns 10 minutos, ele chamou meu nome para meu espanto.
Como sabe quem eu sou? Estou famoso e nem sei?
Ele levantou do banco e se aproximou, e puxou conversa.
Como estás? Está tudo bem? Não saiu sua aposentadoria ainda? Questionou. Daí o reconheci, quando chegou bem perto. Confesso que fiquei envergonhado sem ter onde enfiar o focinho. Era um grande amigo e colega de trabalho que por muitos anos trabalhamos próximos. Eu era secretário de Comunicação do prefeito Luiz Henrique e ele chefe de Gabinete. Era o Fraiz. Firme, forte, saudável, porém mais magro e sem o seu tradicional bigode. Aparenta mais jovialidade aos quase 70 anos, possivelmente pela leveza sem o farto bigode.
Recebeu a quarta dose contra a Covid e saiu serelepe,
Segui para sala de vacinação, fiz uma injeção no glúteo e verifiquei a pressão. E a enfermeira recomendou: - O senhor tem que vir mais vezes acompanhar a pressão para registro no sistema e acompanhamento médico. Garanti a ela que vou mais vezes sim. Ainda envergonhado de não reconhecer um bom amigo e colega que durante anos trabalhamos em salas uma do lado da outra sai do postinho e respirei fundo na varanda onde se espera a hora de atendimento.
Na saída, já indo embora. Outro senhor, me cumprimenta, vem falar comigo.
Você aqui? Puxou conversa. Desta vez prontamente repondi que fui me vacinar. Trocou algumas palavras e me despedi.
Continuo sem saber quem era nem de onde o conheço. Mas a fisionomia não é estranha.
Será que estou caducando?
domingo, 22 de maio de 2022
A RIFA
A RIFA
Acomodado na última mesa de canto do bar, estava o Adroaldo Roberto, um conhecido. Estava com cara de emburrado, não queria ser importunado. O dono do boteco, que ficava lá na Vila do Cachorro Sentado, em alusão a várias casinhas “meia-água”, até fez um sinal e cochichou nem chegue perto. Deu curto circuito no chifre. Tá sofrendo.
Em cima da mesa de metal, dessas que usam em bares com quatro cadeiras e estampa de uma marca de cerveja, estava ele com um monte de papel de embrulhar pão. Escrevia números e rasgava em pedacinhos. Colocava tudo em um baleiro, igual aos que ficam nos balcões dos bares com pirulitos, balas, chicletes, gomas e todas doçuras para estragar os dentes da piazada.
Tinha com ele um toca-fitas e gravador cassete, que tocava sem parar as músicas do Lindomar Castilhos. Era uma dor de corno só: Nós Somos Dois Sem Vergonhas, Camas Separadas, Muralhas da Solidão, Coração Vagabundo, Ébrio de Amor, Você é Doida Demais e Eu vou Rifar Meu Coração./O som não era alto porque aqueles aparelhinhos tinham pouca potência, mas dava para levar a qualquer lugar.
Observei algum tempo, pedi torresmo, laranjinha Balvedi e fiquei por ali observando o Adroaldo. O Lindomar Castilhos estava rouco de tanto tocar a fita. Ele escrevia e rasgava papelzinho, dobrava e colocava no baleiro.
Lá pelas tantas cheguei perto e puxei conversa:
Que tá inventando aí? perguntei tentando quebrar o gelo e matar a curiosidade.
Não te interessa e você deve ter culpa também.
Deixa de ser tanso, bicho véio, me fala. Adroaldo ficou em silêncio, respirou profundamente, deu um suspiro de dar dó. Entornou mais um “mercedinho” de purinha e virou a fita. Apertou na tecla play e aumentou o volume.
O som rouco do toca-fitas cassete Nacional era ruim e a fita gasta mas ele não queria saber. Botou o volume no mais alto e se recostou na cadeira. Era ainda Lindomar Castilhos cantando “Eu Vou Rifar Meu Coração”
É isso que vou fazer! Já escrevi os números, estão todos no baleiro. Vou rifar meu coração para quem me der mais carinho.
Ouvi a prosa do Adroaldo e sai. Dias se seguiram e a turma toda durante a semana pegou número da rifa, mais para diversão. Vendeu os números a um cruzeiro. E marcou o sorteio para o terceiro domingo de maio às 11h ali mesmo no Bar Gambá Enfastiado.
Era uma manhã bonita, clara, sol radiante,mas a temperatura estava por volta dos 8 graus. Os amigos, parceiros de boteco apareceram. Veio até o João Cuiudo com a gaita e puxou sucesso de Teixeirinha, Quem é Você agora , composta quando Mary Terezinha o deixou.
Estava na hora do sorteio. O Velho Tatu Mulita, dono do Gambá Enfastiado abriu a tampa do baleiro e anunciou o início do sorteio.
Vamos começar o sorteio do “coração” do nosso amigo Adroaldo Roberto que recentemente sofreu grande desilusão amorosa.
Adroaldo trouxe o toca-fitas cassete e apertou play, novamente a música Eu Vou Rifar meu Coração, que ficou como fundo musical. Quem passava na frente do Gambá Enfastiado olhava, parava e alguns ficaram. Enquanto isso, o bodegueiro Tatu Mulita meteu a mão que mais parecia um remo de tão grande. Pegou um papelzinho e todos ficaram em silêncio. Só se ouvia o fundo musical
Eu vou rifar meu coração
Vou fazer leilão
Vou vendê-lo a alguém
Não vou deixar o coitadinho
Viver sempre sem carinho
Ficar sempre sem ninguém
Todo mundo em suspense até que sai o número sorteado:
Vamos ver quem ganhou. Anuncia o Mulita. É o número 6, para quem não sabe é cabra no jogo do bicho. Em seguida foram ver a lista dos compradores da rifa. E na lista correspondente ao número estava o Miguelão, 140 quilos, 1m90, mecânico de caminhão num posto de molas na Transbrasiliana, do outro lado da Vila do Cachorro Sentado. Miguelão dava medo só no caminhar do vivente e sempre andava com uma prateada na cintura.
Todo mundo ficou em silêncio. Foram saindo aos poucos. Tatu Mulita entregou os frangos assados das encomendas e desceu a porta de ferro de enrolar.
Adroaldo recobrou a consciência, nunca mais se falou no assunto e ninguém foi revelar o resultado do sorteio ao Miguelão.
Adroaldo desistiu de rifar o coração. Está namorando a filha do dono do Gambá Enfastiado e a fita cassete que enrolou no cabeçote ficou lá. Aposentou até o toca-fitas. Comprou um walkman. Assim ninguém sabe o que houve e nunca mais ninguém tocou no assunto. Anos depois casou e se mudou para Viadutos, na esperança de que ninguém lembre quem foi o ganhador do sorteio.
Acho também que nunca mais ouviu “Eu Vou Rifar Meu Coração”.
quarta-feira, 18 de maio de 2022
O PIÁ DA CARROÇA DE ADUBO ORGÂNICO
O PIÁ DA CARROÇA DE ADUBO ORGÂNICO
O seu Oliveira, como era conhecido na região do bairro João Costa, zona sul de Joinville, para os lados de baixo do cemitério da rua Kesser Zattar em direção ao Parque Guarani e Paranaguamirim, sempre cuidou da família e se esforçava muito. Para aumentar a renda da família montou uma atividade de produção de adubo orgânico caseiro, que vendia por alguns trocados. As pessoas usavam nas hortas de verduras, moranguinhos e também nos canteiros de flores na frente das casas e também adubavam as plantas nos vasos.
Oliveira tinha dois filhos, uns piazotes metidos a conquistador e sem nenhum puto tostão nos bolsos dos calções. O mais velho Saul era falante, conversador e conquistador, tinha sorte com as garotas e sempre era visto com uma menina bonita, de boa família, moças vistosas. O mais novo Raul seguia o irmão, que era seu ídolo. A natureza não o ajudou muito, mas se achava o tal. Queria ter namoradas como o irmão. E a trinca era formada pelo primo Renato, que era malandro, não gostava de pegar no pesado, mas era o mais forte e aguentava as broncas quando se metiam em confusão, como briga depois da escola, alguma desavença na saída da Metrô, geralmente por ciúmes ou disputas por garotas. Não perdiam tempo com discussão quando o Tamandaré perdia o jogo.
O mais jovem Raul estava apaixonado por uma colega da Escola Municipal João Costa onde todos estudavam, ali na frente da antiga Metrô, na rua Monsenhor Gercino. Mas era uma paixão daquelas de se esconder de vergonha quando via a garota. Às vezes arrumava uma bicicleta emprestada e passava dezenas de vezes na rua em frente a casa da família da menina só para ver se a via. Por duas ocasiões caiu da bicicleta perto da casa e levantou rapidinho para que ninguém visse o mico.
Após uma tarde de “coleta” pelas ruas do bairro, a carroça estava cheia. O tal adubo orgânico era fezes de animais. Havia muitas vacas e cavalos nas pastagens do João Costa, onde hoje está tudo habitado pelos loteamentos que surgiram. Estes detritos eram compostados e serviam de adubos. Era comum a vizinhança comprar carroçadas para espalhar nas plantações.
Numa quinta-feira lá pelas sete horas da noite de um verão, há quase 40 anos, seu Oliveira chama os piás e ordena. A carroça está cheia, levem a carga lá no compadre Ranulfo.
O primo Renato, malandro, foi o primeiro a fugir.
Tio a mãe tá me chamando. E sumiu na braquiária.
Pai, tenho que terminar um trabalho difícil para a escola - disse Saul, o filho mais velho, sabedor do que se tratava. Só o pai acreditou porque o estudo não era o forte dele e sim correr atrás de rabos de saia.
Sobrou a empreitada para o mais novo, que ficou com cara de cachorro que caiu do caminhão de mudança.
Pai, não pode ser amanhã?
Tome tenência guri! Vai agora que o compadre quer espalhar o adubo hoje.
Furioso, lá foi o menor puxando o cavalo, mascando freio. A casa de Ranulfo era próxima a cerca de um quilômetro de onde moravam para os lados de onde hoje é o Parque Guarani. Chegando lá, tapado de vergonha ficou imaginando o que falar. Bateu palmas na frente da casa e ficou rezando para que o seu Ranulfo fosse atender.
Clap! clap! clap! - bateu as palmas e nada. Chamou pelo : Seu Ranuulfoooo!.
Em seguida aparece alguém na porta e Raul fica branco, respiração pára, em seguida recobra a consciência e fica rubro de vergonha.
Ou Raulzinho, tudo bem? O que você quer? - perguntou Betina com a voz mais suave do mundo. Aquele momento se eternizou e ao mesmo tempo que seu coração amoleceu com aquela gentileza, também criou um pavor dentro dele ao ter que prosseguir a conversa.
O te-te-teu pa-pa-pai? disse gaguejando.
O pai tá lá na horta, respondeu Betina.
O meu pai mandou uma encomenda para entregar, explicou o garoto.
Ah! Sei, espera um pouquinho, disse ela e dali mesmo gritou:
Paieeeeeeee. O piá da bosta chegou com a carroça.
Aquilo, na imaginação dele, parece que o universo todo ouviu e causava eco em cada vale do mundo. Neste momento ele orou para morrer ali mesmo. Todo encanto, ternura e esperança que havia se quebrou. Nunca mais ela o veria diferente. Na manhã seguinte na escola seria uma tragédia, pensou até em fugir e não acordar mais. Sua cabeça estava um turbilhão. E o irmão mais velho e o primo ladino sabiam disso. Certamente armaram para ele.
De uma hora para outra passou de um possível pretendente a namoro para ser o “piá da bosta” com a carroça cheia de merda de vaca e cavalo para espalhar na horta.
Descarregada a carroça partiu para casa. Emburrado não falou com ninguém. Nem desatrelou o cavalo da carroça. Pior é que tinha de dormir no quarto do irmão. Ficaram sem se falar uns dias. Passaram os anos e ele nem se lembrava do episódio.
Mas na semana passada, após quase décadas, Raulzinho vai em uma fina loja de roupas masculinas, sobe dois degraus e dá meia volta. Faz de conta que lembrou algo, pega o celular, mas o dono da loja seu amigo o chama para mostrar novos produtos. Ocorreu que lá no meio da loja ele viu uma balconista que ele reconheceu. Sabe quem era? Pois é….
Há quanto tempo Raulzinho.. Não te via desde aquele o tempo que você era o “piá da bosta”.
Bem que ele tentou esquecer o episódio de Betina, nos últimos 40 anos. Mas ainda recorda da suavidade daquela voz e do olhar e do sorriso encantadores que ela tinha. Ela ainda o via como o menino de 10 anos que dirigia a carroça do pai, cheinha de …….”adubo orgânico”.
sexta-feira, 13 de maio de 2022
Nunca chegue perto do poço negro
Nunca chegue perto do poço negro
Era por volta das 10h da manhã quando um caminhão entrou pela pequena estrada de chão batido em direção a um sobrado que estava para alugar. Localizado a 800 metros da estrada principal. A pequena localidade não se via, da estrada principal asfaltada por estar encoberta pelas montanhas e era um belo vale, com uma sociedade recreativa e esportiva, alguns vizinhos, com casas bem distanciadas.
Duas moradoras antigas, sentadas na varanda da casa, de uma delas viu o caminhão estacionar e comentou com a outra:
Mudança, vizinhança nova. Será que eles sabem?
Acho que não. Já faz mais de cinco anos. E nunca conseguiram alugar ou parar gente aí.
Credo! Me dá até arrepio só de passar na frente.
Acho que ninguém falou nada - conclui uma delas.
Mudança retirada do caminhão, móveis carregados para o sobrado e o dia todo a nova família ficou na lida de limpeza e organização, sob os olhares atentos dos vizinhos. As duas continuaram até o final da tarde trocando guizos.
Não contentes com a curiosidade, caminharam alguns metros até a casa e bateram palmas. A dupla de cachorras rottweiler já vieram no portão e latiram com ferocidade, defendendo seu novo território. Recuaram assustadas com os dentes, boca babando e latido forte das cadelas. O dono chegou e cumprimentou-as.
Boa tarde vizinho, viemos dar boas vindas. Está tudo bem com vocês. É que faz muito tempo que ninguém mora nesta casa e como vocês vieram?
Viemos do outro município, lá o aluguel estava caro e esta casa enorme está com um preço muito bom. Respondeu o novo inquilino.
AAhhh! Tá bom. Mas o dono lhe contou tudo?
Sim, falou que posso usar tudo, tem o galpão para lenha, churrasqueira, espaço pra horta, galinheiro só me disse para não mexer naquele poço negro.
Sim, mas não falou mais nada?
Só isso que é importante. Mas me dão licença que temos muita sujeira para limpar e arrumar os móveis.
As duas foram embora com as línguas formigando com vontade de contar tudo o que sabiam.
Os novos vizinhos não apareciam muito na rua. E à noite as rottweiler não dormiam. algo as incomodava e percorriam o terreno o tempo todo, latiam, uivavam e não tinham sossego.
Em uma noite de lua cheia, estavam impacientes. A esposa levantou por volta das 3h30min e espiou pela janela dos fundos. A noite iluminada pelo luar viu algo assustador. Correu para a cama e chamou pelo marido que não queria acordar.
Tá louca muié. Tá vendo fantasma a esta hora?
Eu vi algo lá fora. Levanta. As cachorras estão agitadas
Não saio daqui nem se a Xuxa implorar, brincou ele
Me abraça, eu vi algo
Tá bom, deita aqui.
No sábado pela manhã, ele acordou, como de costume às 6 horas. Preparou um chimarrão e foi dar uma caminhada no pátio. Desceu as escadas e não acreditou no que viu.
Todas as mudas de Espada de São Jorge e Comigo Ninguém Pode estavam estraçalhadas e espalhadas por todo o terreno que estava esburacado.
As duas rottweiler surgiram de trás do galpão que servia para guardar lenha e ferramentas com pedaços de roupas, blusas, calças e sapatos. Ele correu para ver de onde tiraram aquilo. Tinha muito mais.
Correu para casa subindo as escadas aos pulos. Entrou no quarto acordou a esposa:
- O que você viu ontem à noite? Gritou tocando nela para acordá-la. ela não acorda. Nilcéia, por favor acorda! O que você viu? Acorda pelo amor de Deus, o que há com você? O que você viu? e nada dela acordar. Desesperado, envergonhado por não ter acreditado no que ela disse ter visto, corre até a rua, olha para os lados mas só vê cerração, pois estamos iniciando o inverno e o sol ainda não chegou. Volta ao quarto e ela não está mais na cama. Seu coração bate mais forte, sente dificuldades em respirar e ouve um barulho forte atrás dele.
- Assim você me mata! Disse ele para a esposa que saia do banheiro, muito cansada. O que você viu ontem?
- Você não acredita em mim.
- Acredito sim , me fala
- Vi um homem saindo do galpão da lenha, cabelos longos, olhos vermelhos, e com uma corda amarrada no pescoço. Ele olhou fixamente para mim. Há algo estranho. Afirmou, contando o que viu.
Sentaram na ampla varanda do andar de cima e ficaram olhando o pátio sem saber o que fazer enquanto as duas rottweiler sentaram à beira do poço negro com olhar fixo para dentro e rosnando para algo que os humanos não conseguem ver.
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