Este é o mês da gauchada e 20 de setembro é a data magna culminando com a Semana Farroupilha. E lembrei de um causo que envolve um conhecido de longa data, um amigo que foi criado numa estância do pai . As pastagens sumiam no horizonte e davam de costados lá para os lados de Camaquã.
O rapazote, andava por lá campereando, mas o velho achou que ele tinha que ter estudo, ser um doutor e mandou aprontar tudo para ir para a capital e se estabelecer. Deveria voltar com diploma e assumir as terras e um bom rebanho charolês.
Filho único, por isso meio mimado pela mãe, desmamou já tarde e o pai deu ordens para a mãe arrumar as coisas do piá e mandar para um compadre lá na capital, em Porto Alegre. Foi embora com ônibus da Frederes, via Camaquã, Tapes, Cristal, Guaíba e enfim chegava na capital.
Toda semana o velho tinha de mandar dinheiro. E a prosa era a mesma, a carestia da cidade grande. Certo dia o pai do piazote chamou a mãe e recomendou:
-Veja lá com o compadre para dar uma bombeada no piá. Já comeu duas arrobas este mês e disse que tem que pagar o “Julinho”. Sempre a mesma coisa. Não vou aturar no meu teto um piá que sustenta outro homem. Veja quem é este tal de “Julinho”. Se ele não estiver tendo um comportamento condizente é porque puxou por você.
Uma semana depois, a patroa elucidou a questão: O “Julinho” em questão que estava comendo muito dinheiro era o Colégio Estadual Júlio de Castilhos, excelência em educação, na época. Mas era um educandário público, portanto gratuito. Deixaram assim meio quieto o assunto até que o vivente foi para faculdade. E escolheu a mais cara a PUC.
Quando veio com a novidade de que desistiu da veterinária, pois não queria saber de charolês nem de vaca leiteira, muito menos de pastagem, o velho só pegou o relho rabo de tatu e ficou batendo na mão. O piazote encheu uma mochila com roupas e se mandou para a prainha de Tapes, onde a turma da PUC iria fazer um acampamento, regado de bebida e outros incensos não legalizados.
Era uma noite fria com lua cheia que deixava um rastro de luz sobre a Lagoa dos Patos, em setembro, dentro da Semana Farroupilha e dê-lhe cantoria, fogueira e carne assando. Não faltava vinho de garrafão, cachaça, caipira, porta aberta, rabo de galo e traçado. A festa durou uma semana.
Como o piá não apareceu na estância de volta, o velho mandou o capataz reunir a peonada e camperear pela região para saber do vivente. Passaram telegrama para anunciarem nas rádios até que um deles ouviu o chamamento do desaparecimento do rapaz, lido pelo locutor da rádio de Camaquã.
Deu merda! Um do grupo que ouviu gritou. Não demorou muito para que um fusca e uma caravan da Brigada Militar chegasse no tal acampamento que se sentia o cheiro de maconha a quilômetros. Todos em pé, mãos nas árvores e seguiram para a delegacia de Camaquã. O nosso personagem, ainda de ressaca a fedendo de maconha foi recambiado para a fazenda pelas mãos do capataz que não disse nada. só colocou ele e as tralhas atrás da camioneta rural e foi sacolejando até ser entregue ao pai estancieiro que o esperava com o rabo de tatu, no portal da casa.
Bonito, hein? Passa para dentro e por aqui. De orelha baixa e bem quieto, se esgueirando, passou pelo pai e só ouviu o assovio do rebenque descendo e lanhando o lombo. Nem um grito. Foi berrar mais tarde quando a mãe jogou sal grosso por cima da ferida para fechar a sangueira.
Mas como o bicho era ruim e meio gaudério, curou as feridas, pegou a mochila, mais uns cobres que tinha na Poupança Habitasul, comprou um possante Passat e se mudou para Santa Catarina. Antes passou na casa de uma tia chamada Carmem em Porto Alegre, se despediu das primas e se estabeleceu em terras catarinenses onde fez fama de moço namorador e sempre grato com a parentagem, pois arrumou outra tia com um monte de sobrinhas.
É o tal dito gaudério: todo gaúcho que se preza, tem um cavalo no prado e uma mulher na zona. Este levou à risca o ditado popular. Sempre gostou as portenhas…
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