Estávamos em um bar, destes bem chinelão, à beira de uma avenida e perto de fábricas. Frequentadores gente de todo tipo, mas o ranzinza escolhe cada lugar que é pior que a cara dele. Ele atrai só ziquizira. Do lado, sempre um casal de senhoras que namoram discretamente. Incomodado vira o focinho e resmunga. Já falei para ficar quieto. Tem um bicão contumaz que chega falante e coloca seu trago em cima da nossa mesa. O que me irrita, mas ele fez amizade e até uma garrafa de vinho chileno já ganhou do amigo de bar.
Mas como os membros do grupo não apareciam para a assembleia semanal, começamos a ver fotos no celular e insistir em convidá-los. E assim nos deparamos com a nova realidade. Estamos perdendo, dia a dia, os membros da confraria.
Perdemos mais um, comentei ao olhar a foto no Instagram.
Infelizmente, mais um que se foi. O “Urtigão” concordou, dando mais uma beiçada no copo de samba. O copo devia ter dezenas de digitais sebosas. Não sei se lavam direito. Imagino que passam uma aguinha e servem ali mesmo para outro cliente.
Comecei a pesquisar as fotos dos amigos do grupo para ver o que está ocorrendo.
Olha este aqui, bebendo vinho de boa qualidade, mostrando a adega climatizada na sala e a companhia dele. Nos trocar por isso?
Este outro aqui, flagrado na cama do casal com duas. Vai dar encrenca.
Credo! Este não vem mais e está perdido. Nem queremos. Temos de tirar do grupo e riscar o nome, Bloquear, ou como dizem os jovens Cancelar.
Todos foram corrompidos e estragados pelo fulano, que faz um rabisco aqui, um desenhinho ali e depois que voltou de Nova Iorque, onde aprendeu esticar o mindinho para beber em taça de cristal, nunca mais se ajeitou. botou a perder quatro membros da confraria. Restam três ainda raiz que não nutelaram.
Ele concordou e até avaliou:
Ele que não venha para o meu lado que esta bandalheira. Você eu sei que não se entrega tão fácil e o mau humorado do Garcia, até onde sei não é de se chegar do lado avesso. Mas parece que a esposa tem forte influência, mas não tem fotos que o comprometa.
Fiquei pensando. Pedi mais uma Heineken, o velho mais um samba e ficamos calados por instantes até que ele se levantou, pegou a chave do carro e largou a bebida em cima da mesa, para alegria do bicão da mesa ao lado, pois em seguida pegaria o que sobrou.
Perguntei ao velho antes de ele sair: - Ué, vai onde vivente: - Vou me precaver, respondeu. Não acreditei. O segui e foi mais um que perdemos. Parei em frente a casa e lá estava ele dando alpiste para a passarinhada e leite integral para o gatinho. Pois é. Todos citados mantêm suas paixões secretas por seus gatos e cachorros, chegando ao abuso de cederem suas camas e sofás para a realeza.
Acho que neste inverno não haverá assembleias da confraria. Vamos aguardar o esquentar da primavera.