domingo, 12 de maio de 2024

O PRIVILÉGIO DE TER MUITAS MÃES

 



Avaliando estas seis décadas de vivência posso afirmar para a companheirada que fui um taura de sorte, abençoado por Santo Antônio e criado por várias mães. Nasci como um bezerro fraco que não iria vingar. Contam que me deram leite de cabrita para ver se firmava.


Mas o bugrinho foi pegando peso e hoje é melhor nem falar nisso, pois supera sete arrobas. E falar em mãe seria injustiça com as demais se eu citasse apenas uma. Tive várias, o que é um privilégio. Tive a mãe que me carregou sete meses Leonor, tive a tia que conheci como mãe Lili que me adotou, criou e encaminhou na vida, tive a avó Elvira que era a protetora. Quando a coisa ficava feia corrida para me esconder atrás da vó. Tive minha irmã e comadre Pepita, que quando nasci gastava seu dinheiro que ganhava como balconista para comprar leite especial para ver seu ganhava um corpinho. Mais tarde ela até tentou me matricular no Lar Escola, mas não durou a proeza. Fugi. Desconfiava que a professora iria comer minha merenda. Afinal eram especialíssimos merengues assados no forno do fogão a lenha, que ela fazia. Crocantes, deliciosos. Não iria deixar isso acontecer. 


Não poderia deixar de citar a Dona Setembrina, onde eu passava tardes inteiras quietinho lendo gibis. A caixa ficava embaixo da cama. Eu já sabia. Uma tarde fui ler gibis, ela saiu, foi ao centro fazer pagamentos e compras e quando retornou ficou assustada com a porta destrancada. Imaginou que haviam invadido. Nada disso. Era eu, bem  quietinho. Fiquei toda tarde lendo. Ela havia me esquecido dentro de casa. 


Na vizinhança havia muitas mães como a Moseca, a Palmira Galli, Tia Koka Motta, a Angela Tiburski, a Marlene Guimarães, a Iracema Chiodi e tantas outras. 


Em outra ocasião, até escrevi sobre o pão com molho que a vizinha da frente dona Palmira dava para o filho dela Paulo e para mim. Lá pelas 11 horas ficávamos rodeando na cozinha até que ela preparasse uma grossa fatia de pão assado no forno de tijolos, com generosa cobertura de molho da carne que estava preparando na panela de ferro  e saíamos correndo de novo. Era comum chegarmos na hora do almoço, sentar, comer sem cerimônia e sem convites na casa dos outros. Os vizinhos pareciam que eram todos parentes e nunca fechavam portas.


E as mães da rua sempre de olho vivo para proteger a criançada que brincavam até altas horas da noite. Muitos enforcavam o banho. 


São boas recordações de uma infância que deixou boas lembranças. E lembrar dessas mães também é uma maneira de homenageá-las.


Assim, parabéns para todas as Mães, seres acima do bem e do mal e com lugar garantido no Céu.


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