Morei em Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul de 1984 a 1989. Enfrentei o frio, a chuva, a umidade, tempestades, cerração e ruas alagadas, como é de costume; Mas nunca presenciei tal situação como está ocorrendo hoje. A água que destruiu grande parte do Estado está descendo pela Lagoa dos Patos e levando o medo, a tristeza, as perdas. Se lá morasse, eu seria um retirante, um atingido, pois meus antigos endereços hoje estão embaixo da água. Pessoas que pouco tem acabam perdendo tudo e tendo de recomeçar.
Mas recordo com carinho da cidade cultural, histórica, agradável, de gente bonita, fina, elegante e sincera como diria Lulu Santos em Tempos Modernos. Fui recebido de braços abertos, fiz amizades que ultrapassam 40 anos.
Cito o tradicional Café Aquários no centro de Pelotas, por traduzir o âmago da história, do povo,seus costumes, seus orgulhos e seu convívio social. Ali se encontram, se misturam, conversam, discutem os diversos assuntos, mas sem brigas nem alterações.
Se encostam no balcão do café e bebem um expresso, muitas vezes fazendo a gentileza de presentear o adversário. Se encontram Brasil e Pelotas, Grêmio e Inter, Arena e MDB, juízes, médicos, advogados, policiais, rufiões, agiotas, engraxates, bicheiros, jornalistas, radialistas, mecânicos, professores, gente do bem, gente do mal. Filhos de damas e filhos da outra.
Lembro com carinho do ex-prefeito Bernardo de Souza, que quando me encontrava no café me dava uma ficha para expresso e repetia: Mas você não envelhece. Eu apenas sorria e aceitava a fichinha.
Acredito que até hoje é este local ecumênico, onde todas as soluções do mundo passam por ali. Já se chamou Café Nacional, Café 35 e há 54 é Aquários devido as grandes vidraças. Quer ver e ser visto? Vá tomar um expresso, fazer um lanche no Aquários.
Tenho enviado mensagens aos amigos que lá ficaram. A maioria me responde que está bem, alguns que saíram de suas casas, outros me relatam que levantaram os móveis. Mas o peito está apertado, o temor continua e nada melhor do que dormir na nossa cama, com nosso travesseiro.
Resta torcer, ter fé de que tudo passará rapidamente e que as cidades e as pessoas se reconstruam para retomar suas vidas.
Em breve gostaria de voltar para beber muitos cafés no Aquários, reencontrar quem lá ficou e me esbaldar na Fenadoce.
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