sábado, 2 de novembro de 2024

Dia de los muertos e os velórios que fomos

 

Durante muitos anos estive envolvido em campanhas e comunicação política. Certo dia um importante político, de abrangência muito grande me ligou da capital e combinou:


  • “Beur”, nem sempre pronunciava todas as sílabas. Vamos no velório do fulano - me convidou. Havia morrido um conhecido de longa data que tinha sido secretário municipal e tínhamos uma relação de trabalho e amizade.

Fui para o Cemitério Municipal na hora marcada, e esperei na frente até ele chegar. Desceu do carro, com seu já conhecido óculos escuros. 



  • Que bom que você veio, vamos lá levar nossos sentimentos à família! Disse ele me dando um abraço e seguimos para a primeira capela.  Ele entrou com toda a certeza, firme e fomos direto no caixão, fizemos uma oração apoiando nas mãos do morto. Olhei o falecido, não reconheci, olhei para o chefe, fechou a cara, como se estivesse dizendo: fica quieto. Sentamos junto a família e conversamos um pouco. 


  • Vocês se conheciam? Mas como? O senhor aqui. Nunca imaginei…

  • Há coisas que só Deus sabe…disse ele e nos despedimos e saímos.


Tínhamos ainda mais mais quatro velórios. Ao caminhar pela calçada entre um e outro muitos vinham ao nosso encontro e restou entrar em todos e dar os pêsames para todas as famílias, até chegar ao nosso colega que havia passado desta para outra melhor.


A visita nas capelas da rua Borba Gato no Cemitério Municipal era para ser algo de 15 minutos, mas como encontramos muita gente conhecida em cada capela, fomos parando, conversando, tomando um café, um chimarrão, papeando com os conhecidos que ficamos até o final da tarde, na hora do sepultamento de nosso amigo às 17 horas. 


  • Há tempos eu não tinha uma tarde tão boa. Rever tanta gente boa e poder dar um último abraço nos que se foram. Por isso devemos fazer o bem para as pessoas em vida. Reconhecer seus valores enquanto estão entre nós. Obrigado pela companhia, agora tenho de voltar para Florianópolis.


Nos despedimos e segui para casa, matutando este conselho filosófico.


De nada adianta limpar o túmulo e levar flores se não havia respeito, admiração e amor em vida.



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