Na semana passada contei sobre o instalador de janelas, e hoje vou escrever, como prometi, sobre o mesmo sujeito, em um episódio que ocorreu na véspera de Natal há uns 25 anos. Na época, na rua Rio Grande do Sul, em Joinville, onde hoje está o supermercado Angeloni, havia um boteco de cachaceiros, o Bar Tigre, que alguns queriam que fosse tombado pelo valor histórico. Só se fosse pelo valor etílico emocional dos frequentadores, pois arquitetonicamente não tinha valor. Ali ele havia calibrado a lenta, pois morava perto.
Todo final de tarde sentava numa das mesas e ficava apreciando as belas garotas que trabalhavam em uma casa de divertimento adulto. Coisa fina! Mas era inacessível pelo salário de nosso protagonista. Por volta das cinco horas da tarde elas davam uma volta, com mínimas vestes devido ao calor de dezembro.
Na véspera de Natal, já meio “enfrascado”, resolveu bater na casa.
Toc! Toc! Toc! - bateu sem fazer muito barulho, até mesmo para ninguém vê-lo naquela hora naquele lugar. Após a insistência a dona abriu a janelinha da porta. Uma janelinha de vidro martelado e proteção de bela serralheria.
O que foi moço? A casa está fechada, é Natal vai para casa! Disse a proprietária do estabelecimento.
Deixa eu entrar. Insistiu.
As meninas estão dormindo e muitas foram ver suas famílias. E eu quero descansar também. Agora vai embora porque sei que você mora alí, argumentou apontando para a casa dele.
Me dê este presente de Natal, apelou o vivente bem temperado de cerveja barata. E insistiu. Apontou para um idoso que estava dentro da casa e lascou:
Não faço barulho, posso usar o pé de pano daquele velhinho se arrastando ali, apontou o dedo espiando pela janelinha onde foi atendido.
Abusado! Não é um velhinho. É meu marido e não é pé de pano, é feltro para lustrar o chão de madeira. Agora te arranca! Ordenou a cafetina. Mas nosso amigo não se deu por derrotado e fez cara de cachorro que caiu do caminhão de mudanças.
A senhora não tem coração, de negar uma visita a um cristão como eu. Vou lhe deixar umas balinhas como presente de Natal e vou embora com o coração partido. Mas sua noite será de tormento pela falta de entendimento de minha situação. Alcançou um punhado de balas, dessas que os bares dão de troco. Naquele momento ouviu o trinco da porta se abrir, como se fosse um milagre.
Entra e não enche mais o saco. Pode subir, consentiu a dona. Ali ficou até a tarde do dia seguinte. Só foi embora depois do almoço.
Até hoje ele repete que o Natal amolece os corações. Com certeza.
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