terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

A Democracia é um bela morena

 A Democracia é um bela morena


O Brasil estava retornando a abertura política com o fim do governo Figueiredo. Alguns líderes como Brizola retornaram do exterior com  a anistia de 79. As campanhas políticas eram motivadas por grandes líderes populares, comícios,  foguetes, carreatas, visitas de casa em casa, apertos de mão.Chimarrão na casa de um, cachacinha na casa do outro, Entravam na cozinha para experimentar o molho que a dona da casa estava fazendo.


Os políticos não tinham Lei de Responsabilidade Fiscal, nem qualquer controle Não que fariam algo errado, mas podiam empregar quem quisesse, definir se calçava ou não uma rua e ajudavam as pessoas. Mandava um caminhão aterrar um terreno, dava caixão funerário para pobres que morriam, remédio para quem necessitava, ajudava construir uma casa enfim o que hoje seria inaceitável.


E lá no Planalto Norte, quase no Paraná, havia um prefeito muito popular, baixinho, gordinho, de pouco estudo, mas falava bem a linguagem popular. Era do partido de oposição e tinha um discurso  firme. Porém era namorador. Mesmo baixinho, barrigudo, careca e pouco estudo. Seu encanto deveria ser a bondade, ou sua atenção aos simples ou a carteira aberta.


Em cidades pequenas todo mundo sabe da vida de todo mundo. Sabem onde moram, o que fazem, quais visitas recebeu. Enfim, plataforma  de informações melhor que o Google.


Na época marcaram uma série de eventos pela redemocratização do Brasil, mesmo que nos municípios sempre foram realizadas eleições diretas, com exceção das capitais. 


No dia marcado para o comício na cidade do nosso personagem, praça lotada. Quase toda população estava lá na praça. Faixas de deputados e senadores, palavras de ordem pela redemocratização e Diretas Já, abraços apertados, reencontros, todo um clima de festa, no domingo de manhã às 10h após a missa das 8h. Depois cada um seguiria seu rumo ou compraria um delicioso churrasco ali na Paróquia.


O dia estava bonito, ensolarado, mas com uma leve brisa típica do Planalto Norte. Iniciadas as falas, primeiro os pitocos. Vereadores, lideranças locais. Depois foi a vez do deputado federal, maior autoridade presente. E por fim nosso prefeito.  


Se apresentou com uma faciota nova, corte italiano feita por um alfaiate de Curitiba. Não economizou, pois o momento era de glória. Sapato social cromo alemão, camisa volta ao mundo e tratou de colocar seu correntão de ouro e pulseiras. Afinal era o prefeito e tinha que se apresentar bem. Derramou algumas gotas de perfume e uma lambida de gel nos poucos cabelos encaracolados. Devidamente barbeado e com forte cheiro de Bozzano seguiu para  a praça.


Chegando lá, de peito estufado e orgulhoso pela resposta positiva da população que encheu a praça, passou cumprimentando a todos.Subiu no Palanque, esperou todos discursadores até chegar sua vez.


Fez uma pausa. Respirou profundamente. Olhou para o horizonte e lascou:

  • “A democracia é linda. A democracia é voluptuosa. A democracia é carinhosa. A democracia está em nosso coração e em nossa alma. A democracia é como uma linda morena, de corpo cheio de curvas, de cabelos escuros, sedosos, com perfume de alfazema”. E foi discorrendo as qualidades da Democracia.


Mas como em todo comício sempre tem um bêbado, desta vez não foi diferente. Empolgado com o brilhante discurso do prefeito, o correligionário meio grogue chegou perto do palco, subiu dois degraus e  apontou para um banco da praça próximo onde estava uma  moça que descrevia com fidelidade a Democracia a quem o prefeito fazia visitas regulares há algum tempo.

  • “Prefeito! Tá ali a sua democracia!”- População caiu na gargalhada, pois era um fato que todos comentavam na pequena cidade, onde todos sabem de tudo. A bela morena só restou sair da praça rapidinho e o prefeito encerrar o discursos agradecendo à todos pela presença e convidando para o churrasco da Igreja.

Mesmo assim, foi prefeito duas ou três vezes e vereador 

A Democracia realmente é linda!


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