Na periferia de Joinville há um universo totalmente distanciado da realidade que vivemos na área central e são mundos densos, que envolvem amor, traição, contravenção, vingança e guerras de facções criminosas. Molho especial para uma ótima trama de filmes tipo tiro, porrada e bomba que fazem sucesso nos cinemas.
Creusa (é assim mesmo) Creusa já foi uma moça atraente, daquelas que ainda adolescente entram num shortinho três números menor e nem se importam com o frio. Blusinha curtinha mostrando o piercing na barriguinha e nos pés apenas com uma rasteirinha. Não tem onde morar e nem o que comer, mas ostenta um IPhone 12 com fone de ouvido e spotify. De onde grana? Acho que de admiradores que a cortejam.
Mas a beleza da juventude já deixou suas marcas em menos de cinco anos. Já é uma velha aos 19/20 anos com dois filhos para sustentar sozinha. Viúva, sem profissão e sem recursos. Mas o plano de internet do Iphone não pode faltar. Comida para os filhos? A lamentação é sempre a mesma.
Mas nossa personagem está aflita, tensa e com medo. Quer resolver logo sua vida. E precisa de um novo marido para pagar as contas. Com 30 anos certamente vai estar com 8 filhos e com cara de 100 anos.
Ocupante de um imóvel no Ana Júlia, que é uma urbanização na periferia sul de Joinville, ela quer alterar o cadastro para tirar o nome do marido. Mas a coisa não é tão simples. Há um cadastro, legislação a cumprir e uma série de procedimentos legais.
Ao ser atendida, aflorou a atriz. Sim! Esta turma sabe agir com maestria frente ao palco dos serviços públicos.Se precisar choram. Fez beicinho de emoção e contou a real situação para ser atendida em tirar o nome do traste do contrato do imóvel.
De uns tempos para cá o marido que se chamava Paulo, que um dia foi só amor, satisfação e intimidade que resultaram em dois filhos e o envelhecimento precoce da Creusa, estava mudando.
Era sabichão, metido, festeiro e saliente. Começou a ficar em casa, cortinas fechadas e o dia todo na TV. Assistia Ana Maria Braga, Sessão da Tarde, programa do Datena, Ratinho e não saia nem para ir ao bar. Uma vez passou uma Yamaha com escapamento aberto que parecia uma metralhadora. Saltou para baixo da cama e não queria sair.
Há uns três anos um filho pediu que o pai Paulo fosse comprar um lanche, comer algo diferente. Paulo chamou a Creusa e foi só o casal. Trariam o lanche para a piazada. Tirou o Gol bege velho da garagem e foram em direção a Kurt Meinert. Estava com uma estranha sensação de que alguém estava seguindo, sendo observado. Imaginou, que deveria estar ficando louco, que era cisma.
Quando uma CG com dois caras usando balaclava se aproximaram ele pressentiu que chegou a sua hora. Instintivamente abriu a porta e empurrou Creusa para fora. Ela caiu se machucou bastante, porém sobreviveu assistindo o fuzilamento do marido.
Abalada, procurou a Delegacia “deu parte do crime” e retornou para casa.
Tentou retomar sua vida. Tudo seguia tranquilo até que sua casa foi atacada a tiros. Os assassinos souberam da sobrevivente e não queriam testemunha. Já havia prêmio pela cabeça dela.
Sumiu da noite para o dia com os filhos até tudo se acalmar.
Mas Creusa tinha de voltar para resolver algumas questões e esclarecer seu maior segredo.
Paulo não era Paulo. Era Juarez. O marido havia usado documentos roubados do irmão que é fichado, membro de facção e de alta periculosidade.
E para piorar a situação de Creusa, ao chegar em Joinville para esclarecer todos pontos e retomar sua rotina, descobre que está com câncer no cérebro devido às sucessivas pancadas na cabeça com a coronha da pistola que o marido lhe agredia.Certa vez a surra de coronha de pistola foi tão forte que ficou em coma alguns dias. Advogados não querem sua causa, sabedores que são da verdadeira identidade do cunhado que teve os documentos usados indevidamente para o casamento. E para provar a verdade precisaria estar frente a frente com o pistoleiro da facção Juarez e fazer a exumação de Paulo e através de exames provar o que está contando.
Triste fim daquela garota que parava o comércio quando passava na Kurt Meinert com seus shortinhos e blusinhas.. Desgraça pouca é bobagem. Isto é a vida como ela é!
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