Nunca mais se enganou
Carlos era um sujeito trabalhador, bons resultados e sempre alcançava as metas de vendas. Lá pelo dia 20 de cada mês relaxava pois já tinha atingido o volume de vendas mínimo. Aí relaxava e aproveitava para sua segunda atividade, a de namorador. Paquerava aqui, ali e não dava trégua para as balzaquianas. Percorria os salões de bailinhos da terceira idade durante as tardes. Um dia em cada um para não ficar manjado. E aproveitava os cafés servidos incluídos no preço. Geralmente uma garrafa térmica com café,leite e um mesão cheio de cuca de banana, farofa, maçã e uva.
Meio esquecido, mantinha na carteira um calendário dos bailes e clubes codificados para a patroa não descobrir. Já tinha uns 50 anos quando o conheci. Alto, magro, falante e bem humorado. Nas tardes de quarta e quinta sumia, sempre após o dia 20. Nestes bailinho a média é de 50 mulheres para cada homem, aproximadamente. Nem precisa saber dançar. Só um passinho para cá, outro passinho para lá e pronto. Parece Fred Astaire ou Gene Kelly e se tomar uma Antarctica de Joinville, quando existia fábrica famosa aqui, já se transforma num Baryshnikov.
Esta era a rotina de conquistas. Só que às vezes caia em armadilhas. Chegava em casa e trocava o nome. Ao chamar a esposa, falava o nome da outra. Encrenca certa.
Quem é esta rapariga. Vamos me diga? - Interrogava a mulher, uma alemãzinha de 1,56m 80 quilos e com dedo apontando para o rosto do marido e olhos flamejantes de ódio e ciúmes dava medo até na Santa Inquisição.
Vânia, é uma cliente que tenho de levar uma proposta. Desculpa meu docinho. - tentava amansar.
Docinho deve ser uma dessas daí. Cliente, eu sei….Estava feita a porcaria. Lá vai Carlos para o sofá mais uma noite. Ainda bem que os vizinhos não ouviram a gritaria.
Mas como o sujeito era useiro e vezeiro, na tarde seguinte foi fazer novas visitas. Desta vezes alí pelo Anita Garibaldi. Chegou no salão, pagou os dez pilas de ingresso com direito ao café da tarde, andou pelo salão, mas nem deu tempo de fazer uma volta completa e chegar na copa para pedir a sua faixa azul gelada. Foi amor à primeira vista. Era do tipo dele.
Encostou no balcão e perguntou ao ecônomo. - Quem é? Alí de blusa verde, saia plissada preta e lenço azul no pescoço? Biotipo parecido com a patroa: cerca de 1,60cm uns 78 quilos, cabelos loiros curtos encaracolados, rosto bonito, quase sem rugas. O coração bateu mais forte e depois de cinco faixas criou coragem e foi tirá-la para dançar.
Na época estes bailinhos não eram com música eletrônica, Djs e esta porcaria toda. Eram conjuntos que abrilhantavam os bailes e atendiam pedidos. Mandou um bilhetinho para os músicos. Enquanto o garçom ia ao palco para entregar o pedido da peça musical, Carlos se aproximou e convidou a sua nova musa para dançar esta peça musical que ele pediu e que acreditava ser o tema de amor e de um futuro relacionamento. Seus olhos brilhavam ao chegar perto, respiração ofegante, mãos úmidas, pensou que ia ter um treco no meio do salão. E se viesse a Samdu para levá-lo? Que fiasqueira. Parou, respirou fundo e chegou mais perto.
Boa tarde, bela dama, me dá o prazer dessa contradança? - Prontamente ela aceitou e caminharam até o centro do salão que estava com poucos casais, visto a falta de homens. Lá do palco os primeiros acordes e o cantor anuncia:
Agora um pedido especial ao nosso amigo Carlos, um sucesso do momento Aguenta Coração do José Augusto. No meio do salão o casal já de rostinho colado suspiravam como dois adolescentes apaixonados:
Após a dança foram se conhecer e se apresentar.
Sou o Carlos e qual o seu nome? - perguntou o conquistador da terceira idade.
Meu nome é Vânia e nunca te vi aqui. Repondeu.
Os olhos de Carlos faiscaram, chegava babar de felicidade. Pensou com seus botões: Esta é a mulher certa para mim,Nunca mais vou trocar o nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário