domingo, 14 de junho de 2020

A véia dos gatos e o dia que conheci Obama

 A véia dos gatos e o dia que conheci Obama



A escola dos Subúrbios, hoje João Germano Imlau, em Erechim, fica perto de onde eu morava, uns 500 metros a pé subindo o morro da Salgado Filho, na época impossível em dias de chuva pois não havia uma rua. Era uma picada íngreme de barro.

Entre os 7 e 10 anos no ensino fundamental a piazada inventa coisas. Onde está o Sesi, perto do Hospital Santa Terezinha havia um mato fechado. Alguns tinham coragem de atravessar para encurtar caminho para as Três Vendas. Minha casa era para o outro lado, em direção ao centro. Numa manhã fria um colega chegou correndo e dando a notícia trágica. Havia um enforcado naquele mato. Maioria saiu correndo pelo portão dos fundos, onde havia um quadra de esportes e mais 200 metros estavam no mato. Ensaiei a corrida e fui até a esquina. Voltei. Vai que o enforcado se mexe….

Havia trabalhos de escola que devíamos fazer em grupos. A gente ia na casa dos colegas. Uma vez eu e um colega de sobrenome Marmentini que morava ali pertinho construímos um vulcão. Só nós dois na casa dele e a cadela Diana. Imagina dois sujeitos com fósforo, cola, cartolina. Quase incendiamos a casa, O Vulcão que deveria ir para a Feira de ciências virou cinzas na lava.

Mas havia personagens assustadores. Para ir na casa de outro colega inevitavelmente tínhamos de passar na Marcílio Dias, próximo ao antigo “lariscola”. Só que a valentia ia até certo ponto. Num trecho antes da casa do colega havia a “Véia dos Gatos”.  Era uma casa de madeira de uns quatro cômodos, pintura descascada, algumas tábuas necessitando trocar devido ao apodrecimento, telhas quebradas, e a frente precisando de cuidados, pelo menos. Muitos gatos habitavam aquela casa. Ficavam na varanda em frente, pelas janelas, telhados, circulando, dormindo, e o sofá já desgastado na área da frente era  preferido deles. A “véia dos gatos” pouco sociável, dava medo. Muito branca, magra, cabelos ralos, pele um pouco avermelhada e os olhos pareciam faiscar. Ralhava com quem passava na rua. Xingava em polonês, coisas que nem entendíamos. Gritava babando, até parecia um animal com raiva. Daí o medo. Em dias de fúria jogava a vassoura, panela,pedra o que tinha na mão. As más línguas fofoqueiras inventavam que ela “vendia coelhos assados para a elite do centro”, nunca acreditei nisso, mas também nunca apreciei coelhos. Porém ela mantinha uma pequena horta com cebolinha, salsinha, alho, orégano e outras ervas que se usa em temperos de carnes, Naquela época era chic ter um casaco de peles de coelhos. 

Era um risco passar pela rua, na nossa cabeça de crianças, éramos valentes até ter que passar na rua da véia dos gatos. Ou no trechinho em frente a casa dela todos corriam juntos, até cruzar aqueles temíveis 15 metros de frente do terreno. Mas o importante era o amor dela aos bichinho. Cuidava e sustentava todas aquelas dezenas.

 Duas amigas minhas de infância e de adolescência podem receber este título. A Marielise já se autodenominou a “véia dos gatos”. E outra é uma amiga de infância que crescemos juntos. E a Marisônia (Kuka) visitei-a no Balneário Rincão no sul de Santa catarina. Impressionante: construiu um triplex para os gatos. Um quarto térreo da casa virou o lar de dezenas de gatos que ocupam também o duplex no segundo andar. Pelo lado de fora contam com uma área de verão cercada por uma grade de cima a baixo que permite a escalada de um andar para o outro. Coberta por caramanchão para amainar o calor do verão. E no triplex sabem que mora?  Sim. Tive a honra de conhecer o Obama. Um simpático gato preto. Nem me deu bola. Ficou na dele quieto observando a gataria.

A honra era grande. Cheguei perto do presidente Obama, cumprimentei-o e pedi licença para sair de seu gabinete pois o almoço de macarrão com galinha ao molho feito em panela de ferro estava esperando e o aroma me torturando. With his license, it was a pleasure to meet you president.


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