Pobre Diablo
Nunca se sabe o que se passa no coração, no sentimentos de cada pessoa, suas paixões, desilusões, seus amores, sofrimentos, recordações. Amores inesquecíveis, traições, reconciliações. Promessas de amor eterno que às vezes não sobrevivem ao primeiro ciúmes.
Nos anos 80 eu trabalhava no escritório de contabilidade do Ruy Antoni, pois eu já tinha curso de datilografia. Comecei como office-boy e fazia o trabalho nos bancos, clientes, repartições a pé, de bicicleta e não tinha tempo ruim. Na esquina da avenida Maurício Cardoso com Torres Gonçalves, em Erechim, havia uma lanchonete que era um ponto de encontro do pessoal da turma. Ali também eu fazia algum lanche antes de ir para aula no José bonifácio à noite. Ao me ver o garçom já vinha com o misto quente.
E nos finais de semana a gente se reunia ali para um sorvete e uma Serramalte. Nos finais de ano o serviço no escritório aumentava e após um lanche voltava para mais algumas horas eram épocas de balanço e eu após algum tempo era digitador de livros-diários nas máquinas Audit.
Certa noite lá pelas nove da noite passei na lanchonete para comer alguma coisa e ir para casa. Noite quente de verão, casa cheia e um povaréu na calçada olhando para dentro. Pelo aglomerado imaginei que a coisa estava animada, deveria ter alguém tocando um show. Afinal estavam progredindo.
Cheguei mais perto e vi o show. Um cidadão de uns 50 anos em cima da mesa, num discurso inflamado contando sua decepção amorosa e convidando para beberem que “hoje quem paga sou eu” parafraseando tango imortalizado por Nelson Gonçalves.
Chovara aos prantos que dava dó. Ninguém chegava perto com medo que ele caísse e se machucasse, alguns riam da tragédia humana e o cantor com seu violão Gianinim caixas de som meio roucas não parava com os sucessos do momento.
Chamei o garçom que era meu conhecido e perguntei o que estava acontecendo.
É nosso cliente trabalha ali na concessionária. Vem seguido aqui sempre mais tarde, mas eu avisei o cantor.
Mas está com o coração partido- comentei
Eu falei para o cantor. Não toca essa.- explicou o garçom
Mas o que não era para tocar?
Falei e escrevi no bilhete: Pobre Diablo do Júlio Iglesias. Ele entendeu que era para cantar. Deu nisso. O polaco loqueou, lembrou da ex e está desse jeito. Pobre Diablo.
Sentei num canto e pedi meu misto quente e fiquei pensando quem foi o mais FDP o garçom que tentou avisar ou o cantor que não entendeu o recado.
“Pero Sigo como un tonto enamorado”!
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