sábado, 11 de julho de 2020

Dia de fazer pão

Dia de fazer pão



No gelado inverno de minha infância uma das boas lembranças, além do fogão à lenha era o dia de fazer pão no forno de barro lá fora no pátio. Aquecia a residência do Bolinha, meu cachorro que ficava na casinha embaixo do telhado do forno para se proteger.

Eu tinha minha função. Amassava a massa até dar o ponto. Na mesa cozinha a mãe polvilhava o tampo da mesa com farinha de trigo para não grudar e ali mesmo misturar os ingredientes: farinha de trigo, ovos, sal, açúcar, leite, fermento. Tudo na quantia exata para dar uma fornada.  Algumas vezes faltava algum ingrediente e lá eu corria com uma xícara pedir na vizinhança.

Pequeno eu subia numa cadeira e com as mãos bem limpas, lavadas com sabão e enxaguadas começava a amassar aquele volume grande que se formava um bolo de massa.

  • Amassa bem até se soltar da mesa - recomendava a mãe. E lá eu continuava naquela atividade que era prazerosa, quase uma brincadeira se não fosse tão séria. Enquanto isso ela colocava fogo lá no forno para aquecê-lo. Antes de levar os pães, ou cucas ou bolos tirava o excesso de carvão ou madeira que tenha sobrado.

Quando dava o ponto eu ganhava um pouco de massa para fazer bichinhos. A avó Elvira ajudava a montar o jacaré, o patinho e vários outros que iam assar juntos.

Massa pronta, formas untadas com banha e agora já com a massa dentro e cobertas com um pano de algodão branquinho, era esperar o crescimento. Depois levar tudo ao forno e aguardar que ficassem prontos. Mas essa espera era interminável quando se é criança e ansioso para que tudo fique pronto logo.

Forno varrido e limpo e super aquecido a mãe colocava as formas. Colocava a tampa do forno e escorava a portinha com um pedaço de madeira e fechava a abertura dos fundos do forno para não escapar o calor. Esta abertura era como se fosse a chaminé. Ficava aberta enquanto tinha madeira para sair a fumaça. 

Com meia hora de forno já dava para sentir o aroma que vinha lá de baixo.O Bolinha nervoso com o cheiro e eu esperando a hora de tirar meus pãezinhos de bichinhos e abocanhá-los puro mesmo. Mas era torturante esperar assar e depois esfriar para não queimar os beiços.

De vez em quando a mãe descia as escadas e ia até o forno para ver como estavam os pães. Ao tirar do forno uma visão de obra de arte. Meia dúzia de pães. Enormes, crescidos e dourados. Fumegando como uma locomotiva e espalhando o aroma de pão quentinho pela vizinhança.

De volta na mesa da cozinha era só desenformar. Um fatia grossa para comer pura ou com uma generosa camada de manteiga, nata ou chimia de abóbora. Precisava tão pouco para ser feliz.

Como hoje é sábado e tem bastante lenha e despensa cheia, vamos lá fazer pães para o final de semana e uma cuca de banana. Bom sábado para todos nós.


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