1973 um ano de grandes conquistas
Estava na terceira série do primário no Ginásio Estadual das Subúrbios, hoje se chama João Germano Imlau. Vinha da segunda série, fraco com o boletim tapado de S, na avaliação da professora Neli Maffessoni, pois na época os alunos recebiam os seguintes conceitos: Insuficiente, Suficiente, Bom, Muito Bom.
Aprovado da segunda para terceira série, meio que empurrado, agora a coisa era mais séria e entravam mais matérias. Também mudava de professora. As aulas eram com a professora Jandira Bisognin. Como eu vinha meio fracote, acabaram minhas tardes livres de correr pelas ruas, andar de bicicleta, ver tv, que era o máximo que tínhamos no século passado.
Nem adiantava a piazada ir lá em casa me convidar para ir pra rua. Foi um ano de clausura estudantil para ver se entrava alguma coisa na cabeça. Minhas aulas eram de manhã e após o almoço, ajudava com a louça, descia as escadas nos fundos de casa até o pátio, brincava com o Bolinha, meu cachorro, atravessava o terreno, passava pelo temível Kelly, um cão tigrado de 18 anos ou mais já sem dentes que ficava embaixo de uma laranjeira, e subia a escada dos fundos que dava numa despensa e na cozinha da casa da minha irmã Pepita. Se eu falar o nome dela ninguém vai saber. Mas o nome é Belmy, mas há mais de 70 anos é Pepita.
Naquele 1973 o estudo em casa foi árduo mas com excelentes resultados. Pelo menos 3 horas de estudos e nada de Jim das Selvas, nem Tarzan, muito menos National Kid e Batman. Correr de bicicleta na volta da quadra só depois de terminados os estudos e feito o “tema de casa”.
Naquela época a rede de lojas Grazziotin premiava os melhores alunos. Mensalmente, quando recebíamos o boletim, íamos no Grazziotin trocar por cupons para participar, no final do ano, de um sorteio de produtos aos melhores estudantes da cidade. Mas era só para quem tinha MB e Ótimo. Lavei a égua com uma montoeira de novas boas. Enchi a guaiaca de cupons de boas notas durante o ano.
Lá por dezembro, antes das férias e após a entrega dos boletins, acontecia uma tarde de espetáculo com mágica, brincadeiras, distribuição de pipoca, algodão doce, balas e outras atrações no ginásio dos Maristas. No domingo marcado para o grande evento, alguém me levou e nem prestei muita atenção no mágico e nem nas outras apresentações. Só queria saber dos brindes.
Começou o sorteio e nada de eu ganhar alguma coisa. Já findando o sorteio o locutor grita o nome tirado do globo:
O sorteado é o aluno da Escola dos Subúrbios, Benhur Antonio Cruz de Lima. O povaréu todo aplaudiu e ele ficou me chamando para receber o presente.
Envergonhado, demorei para sair lá dos fundos, atravessar o ginásio todo, subir a escadinha de madeira que dava acesso ao palco e receber o brinde. Eu tinha 9 anos e enfrentar um ginásio de esportes lotado com milhares de pessoas me deixou meio sem graça. Subi ao palco e ele fez mais uns gracejos e anunciou:
Como você foi um bom estudante e teve notas boas, aqui está um presente da rede de lojas Grazziotin e me entregou uma bela caixa vermelha com um jogo de talheres inoxidáveis. Aquilo me encheu os olhos. Me abracei naquela caixa e voltei rápido para meu lugar. Já queria ir embora para levar para casa. Vai que me pedem de volta… ou me roubem no meio do povo..
Não via a hora de chegar em casa e dar de presente para minha mãe. Acho que foi o primeiro presente que dei a ela. Anos depois quando comecei a trabalhar a primeira compra foi uma máquina de lavar daquelas que parecia um tonel de madeira. Ficava na cozinha assim evitava que ela tivesse de descer até o tanque que ficava no porão úmido e no canto atrás do tanque de roupas morava um sapo gordo. Boas lembranças.
Ahh, devo lembrar que só naquele ano fui um aluno MB e Ótimo, no meio século seguinte apenas mediano entre notas de 5 a 7, mas “Tão bão ansim”.
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