terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Gritos suplicantes na madrugada

 


Gritos suplicantes na madrugada


Os gritos de desespero sussurrados, se ouvia fracamente ao longe. Um calafrio correu pela espinha, uma sensação horrível de algo ruim acontera. Era noite escura, e por volta das duas horas da madrugada os gritos vinham de longe trazidos pelo vento gélido da noite. Uma voz fraca, e carregada de sofrimento, de solidão e desespero agonizava um pedido de ajuda.


  • Socoooorroooo!. Me ajudem. Por favor…estou morrendo. Alguem ajuda!  No silêncio da noite se ouvia este clamor que poderia ser de gente, ou de coisa ruim mandada para atormentar. Poderia ser uma alma penada, ou imaginação de quem ouviu.


Assim seguiram os pedidos aflitos, tormentosos querendo  ajuda. Mas o que será que houve? Pouco se ouvia ou via alguém naquela casa.


Um vizinho levantou para ir ao banheiro e ouviu essa súplica. Chegou na janela para verificar se realmente era real ou foi um sonho ou uma peça de sua idade avançada, também.


A mulher dele também levantou e ouviu o mesmo martírio . Não teve dúvidas e percebeu que era algo sério. Telefonou para a polícia, relatou o ocorrido e deu o endereço. A resposta foi imediata, e em pouco tempo uma guarnição da Brigada Militar chegou ao portão da casa e ouviu gemidos profundos de grande sofrimento. Os dois brigadianos abriram o portãozinho, entraram no terreno pouco iluminado, e com muita vegetação, pois havia muitas plantas. Repentinamente uma luz veio do céu e um foco do luar levou diretamente ao local que deveriam procurar.  O soldado da BM encontrou-a deitada no pátio, desacordada e com muitos ferimentos. Magra, suja, ferida, doente e faminta. 


Tentaram perguntar o que houve, se ocorreu assalto, violência, mas a fraqueza da idosa não permitia que falasse. Apenas apontava com o indicador para a casa e com olhar desesperado balbuciava algo sem que os soldados pudessem entender.


Enquanto um passava um rádio pedindo ambulância, o outro foi averiguar a casa Percebeu a porta  aberta. Entrou lentamente com cuidados, pois poderia ter sido obra de algum malfeitor que poderia ter assaltado a casa e agredido a senhora de 84 anos. Afinal ela foi encontrada caída sem sentidos no terreno onde estava desde a tarde e só recobrou a consciência para gritar por ajuda na madrugada seguinte.


O soldado foi pé ante pé em todos os cômodos, certificando de não haver um assaltante na residência.  Dentro da casa de madeira, outra cena horrível para qualquer ser humano. Um cenário de tristeza, desolação, falta de humanidade, de amor , de carinho, atenção saúde, de higiene, de solidariedade. 


O soldado que entrou na casa não conteve a emoção e engoliu o choro ao ver a situação. De longe sentiu o cheiro horrível da falta de higiene pessoal e necessidades feitas ali mesmo.


Afundada em uma cama, colchão mal cheiroso, estava a irmã mais velha de 90 anos que estava muito doente e precisando de atenção. Foram levadas para o hospital público, recebendo toda atenção e cuidados necessários. Não havia parentes e nenhum registro para quem telefonar, nunca tiveram filhos e não gostavam de crianças nem de vizinhos. A mais nova de 84 anos morreu no dia seguinte, de infarto, aliado aos machucados da queda e do rastejamento no dia anterior em busca de socorro. A mais idosa, finalmente voltou às origens. a BM achou uma sobrinha que a acolheu em seus últimos dias ou horas. 


Viveram sozinhas nos últimos 50 anos, uma cuidava da outra. Vieram de uma cidade próxima, Barão do Cotegipe, onde venderam uma pequena propriedade e compraram uma casa boa próxima ao centro. Mas nunca quiseram amizades, vizinhança e seus atos eram de rejeição a qualquer contato com os vizinhos.


Primeiro ato foi arrancar o portão que dava acesso ao nosso terreno. Não queriam contato algum. Reclamavam de folhas que caíam no terreno delas e da água da chuva que escorria.


Nunca cultivaram amizades com vizinhos, que na verdade são os melhores parentes, pois podem te socorrer em uma noite de agonia.


Cultivem amizades, cumprimentem, sejam gentis. Informe seu telefone e escreva possíveis problemas que você possa ter e algum contato em caso de “precisão” conforme dizia minha avó.


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