domingo, 17 de julho de 2022

O sumiço do Saci Pererê



O sumiço do Saci Pererê



A gauchada conhece a lenda do Saci Pererê. Desde piá a gente aprende e ouve estas histórias, mas a de hoje eu conto como se resolveu um mistério envolvendo o Saci Pererê. Em uma sexta-feira bem cedinho, uma senhora de aproximadamente 70 anos chamou a Brigada Militar para “dar uma queixa” do roubo de um botijão de gás, quase cheio. Já era o terceiro “bujão” que levaram da casa dela, uma aposentada com poucos recursos. Um prejuízo enorme.

Chegando os brigadianos ela já saltou por afora e foi gritando.

- Este Saci fiadaputa, de uma perna só levou de novo meu “bujão”. Vocês têm que prender este vagabundo. Ordenou a senhora.

- Bom dia senhora, fique calma, vamos investigar o ocorrido. Conte o que aconteceu? Questionou o Sargento da Brigada que atendeu a ocorrência e já conhecia a Dona Valdevina, pois ela havia trabalhado na casa deles como doméstica há anos.

- Meu “fiu”, este ladrão não sabe o quanto custa um “bujão”. Eu vim do Centro Espírita do Pai Nelito lá pelas dez da noite e fui direto para a cama. Acordei de madrugada com um barulho e fui “oiá”. E tinha um fantasma, um Saci de uma perna só que arrancou o meu “bujão” e saiu correndo de bicicleta e de muletas.

- Huummm” Certo dona Valdevina, mas alguém mais viu o tal Sací?

- Você me “aduvida” eu vou lá falar com tua mãe”. Pergunte aí pros vizinhos. Todos já tiveram “bujão” roubado por este fantasma do coisa ruim.

O sargento, um cabo e um soldado que dirigia a viatura começaram a conversar com a vizinhança ali perto da antiga “usina” próximo ao Centro Espírita do seu Nelito, bem no início do bairro São Cristovão, em Erechim.

E os relatos era assustadores. Todos já tinham sido roubados e avistaram a assombração nas madrugadas.

Não tinha dúvidas, era o Saci Pererê de uma perna só com muleta e bicicleta.

E roubava não só no São Cristovão. Certa feita subiu para a Cerâmica, perto de um campo bonito de grama e um pinheiral que de tão bonito dava até para tirar retrato. Passou bem de madrugada enquanto havia cerração, “bombeou” as casas, fez um estudo de onde era mais fácil levar mais uns botijões que vendia num ferro-velho ali perto da Paróquia do bairro. Se desse polícia jogava no rio que cortava o São Cristóvão.



A Brigada iniciou uma grande investigação para saber que entidade do além era essa que estava roubando botijões de gás. Até telegrama mandaram para o comando em Porto Alegre. Seria necessário reforçar o efetivo para lidar com o sobrenatural, com uma lenda gaudéria missionária e centenária? Deveriam envolver o MTG? Historiadores, pajelança ou era caso de exorcismo?



A carreira do Saci foi duradoura, mas o excesso de confiança sempre nos trai. O Saci se achava imbatível, Nem Sherlock Holmes o descobriria. O Saci não contava com uns piás metidos e sem medo de assombração. Voltavam para casa de madrugada, com a cabeça já cheio de laranjinha do Balvedi e quem sabe alguma mistura. Viram a cena e sabiam que era coisa de outro mundo. Ouviram no Jovino da Rádio Erechim tal causo. Se esconderam atrás de um pinheiro e quando Saci passou pedalando a bicicleta com muleta e um “bujão” novinho, que reconheceram, já que haviam comprado na sexta-feira, não tiveram dúvidas. Sem medo pularam em cima do malfeitor. Foi um gritedo e se desfez o mistério



Saci era um malandro que havia perdido a perna com um tiro dado anos atrás por alguém que teve o botijão de gás surrupiado. Mas não perdeu o vício.



Levou um tapas na orelha e liberado. No domingo Dona Valdevina mandou rezar uma missa em agradecimento a São Cristovão que atendeu os pedidos dela e uma santa alma devolveu o “bujão”.

Na segunda-feira no programa do Jovino Martins, na rádio Erechim, ele noticiava

-Resolvido mistério do sumiço dos “bujão”! Coisa ruim rouba e São Cristovão devolve! A manchete irradiada fez eco por todo o bairro. Era quase um milagre.

E Saci Pererê nunca mais foi visto pelo bairro. Se faltar botijão de gás na vizinhança, olhe pela janela de madrugada, vai que um homem de uma perna só esteja carregando na bicicleta. Se tiver uma muleta no pedal, É ele.

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