sábado, 22 de junho de 2024

NENHUMA MENSAGEM JAMAIS CHEGARÁ


A todo momento Inês olha o celular, desbloqueia, verifica mensagens, principalmente do whatsapp. Há meses que só chegam mensagens infames de bom dia, orações, receitas culinárias, assuntos dos catequistas, clubes de mães, correntes de orações e memes que conhecidos de seus grupos mandam. A principal mensagem que ela gostaria de receber, alegraria seu coração solitário, que por nove anos recebeu e deu amor, não aparece na tela do celular. 


O silêncio do aparelho é como se tivesse espinhos no seu smartphone. Cada vez que ela pega e faz isso a toda hora, nada encontra e sente os espinhos cravados em suas mãos, pois foi ela quem o afastou e se arrepende de seu ato.


Passa os dias relembrando os bons momentos que passou com Ary. Eram raros os encontros, mas intensos e ela era surpreendente. Preparava surpresas que ele adorava. Falavam todos os dias, nem mesmo a distância, o frio, chuva ou o rigoroso inverno foram capazes de esfriar os encontros.


Completariam dez anos de intimidades, de amizade e cumplicidade. Ary estava entusiasmado em vê-la de novo e passar algumas horas na companhia daquela pessoa querida que se tornou bem mais do que amizade. Apesar da distância sentiam atração um pelo outro e alimentavam este relacionamento como se estivessem vivendo na mesma cidade. Falavam da vida, do trabalho,das agruras, encantos e desencantos e também de suas frustrações do dia a dia, mas principalmente nutriam o carinho que um sentia pelo outro e a atração que era algo, como dizem química. Sedutora, sabia cativar os desejos de Ary, que não media tempo e distância para vê-la.


Antes de completarem 10 anos deste bonito relacionamento, Inês colocou um ponto final. Começou a arrumar desculpas para não mais encontrá-lo. Ary ficou chateado e tentou entender este comportamento. Afinal sempre demonstrou o seu amor. Programava as férias em função de viajar para ficar com ela, mesmo que fosse por pouco tempo. 


Ele entendeu que era o fim quando leu uma publicação que dizia algo como afastar alguém de sua vida vai ser melhor. Ele entendeu que nunca mais a veria. Também não a procurou mais. Afinal, não iria atrapalhar a vida de quem ele sempre teve um carinho muito grande. Acreditou durante  muitos anos que o que sentiam era mais do que amizade, que era algo tão real e bonito que poderia ser o tal amor, cantado pelo mundo e que muitos passam a vida sem encontrá-lo.


Sabiam que jamais ficariam juntos, mas tinham a certeza do que sentiam e da explosão de felicidade ao se encontrarem. Ela esperava e vibrava. E nem mesmo colocando o celular embaixo do travesseiro e olhando a cada minuto a mensagem que Inês espera,  não vai chegar. Ary foi embora. Mudou para sua cidade natal e comprou um motociclo Jawa de fabricação tcheca, ano 1964 com alforges. Reformou e sai de vez em quando em passeios curtos onde tem asfalto para não sujar e nem estragar a raridade. Só restou para Inês caminhar na praia, com esperança de que o vento do mar traga uma garrafa com uma mensagem dentro dela. O mar não tra



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