Um músico conhecido meu de muitos anos, dos tempos em que eu tocava trompete em conjuntos musicais só em carnavais, para ganhar um dinheiro extra, estava desabafando que infelizmente não se fazem mais carnavais como conhecíamos . Eram pelo menos quatro bailes no contrato nas noites de quinta a sábado e o matinezão para a criançada nos domingos de tarde.
Me relatou que um presidente de um clube chic contratou a banda para um grande baile do clube mais tradicional da cidade. Lá por novembro ele acertou com os músicos que faltavam, ensaiaram todas as marchinhas, sambas e algumas novidades. Mandou fazer uniforme para todos e tinha até um grupo de dançarinas e dançarinos.
Na tarde que a banda estava instalando os equipamentos de som e instrumentos e iam “passar o som” o presidente do clube chegou com cara de poucos amigos.
Quero deixar claro que no meu clube só aceito música decente. Que respeite os nossos valores. Sentenciou o presidente um baixinho gordo, que parecia um liquinho ambulante. Nossa casa é de respeito.
Concordo, seu presidente, disse meu amigo, acenando com a cabeça.
Quero ver a lista de músicas antes de vocês tocarem, intimou o gorducho mais metido que toucinho em feijoada.
Mas meu senhor, são as tradicionais músicas de carnaval tocadas há quase 100 anos, argumentou o músico.
Não me interessa. Aqui não vão tocar porcaria para estragar os jovens e deixar as senhoras sem graça, vociferou o contratante e cada vez que se alterava puxava o suspensório já que a calça caia e a pança vinha à mostra.
Meu amigo puxou a pastinha e mostrou a lista.
- O que? O senhor acha que isto aqui é casa de raparigas? Gritou o presidente e continuou.
A Cabeleira do Zezé? quer me arrumar processo? É dos carecas que elas gostam mais? O que está pensando com esta nojeira de duplo sentido? A Pipa do Vovô? Mas que degradação é essa? Maria Sapatão? Quer que o clube feche seu irresponsável? Andorinha? Acha que nossas mulheres precisam se soltar com outros para serem felizes?, safado. Também gente de noite, músicos tudo igual…Nega Maluca? Mais um processo? Maria Escandalosa? Só se for da sua família. Cachaça não é água? Claro que não seu beberrão, gambá; O Teu Cabelo Não Nega? Credo, o senhor deveria estar preso por tocar esses lixos. E assim seguiu o presidente do clube analisando, comentando e cortando músicas.
Incomodado com tal situação, meu amigo o músico jogou forte e tentou ganhar no pano verde, achando que tinha cartas:
Pois então, senhor arrume outro conjunto que não vamos aceitar esta interferência e o clube vai honrar o contrato. Estamos aqui e o senhor é que nos impede.
O baixinho, gordo, de suspensório nada falou, arrancou os fios das caixas de som e gritou
Te arranca daqui pervertido. Só falta querer tocar na Boquinha da Garrafa.
Claro que sim é na outra folha seu tatu do rabo mole, devolveu o músico.
Se o baile ocorreu? Sim, foi um desastre. O presidente arrumou um toca-discos com as seleções dele mesmo e um sobrinho ia colocando as páginas musicais. Ninguém ficou porque os músicos lá pelas 11 da noite se instalaram na rua e começaram a tocar de graça para o pessoal que abandonou o clube onde o gorducho era presidente. Ficou ele emburrado, bufando olhando os sócios se divertirem.
O ponto alto foi quando tocaram “Fuscão Preto” em ritmo de marchinha.
Vamos aproveitar o feriado e deixar os chatos bem longe.
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