sábado, 7 de junho de 2025

QUEBRANDO GEADA

Por volta das cinco horas da manhã levantei devagar porque as juntas doem com o frio. Sentei na beirada da cama, por alguns segundos pensei no que faria. Fui até a janela e dei uma bombeada. Cerração forte, geada branqueando tudo lá fora. Abri uma fresta da janela para sentir a temperatura. Veio uma golfada de vento gelado que me obrigou a fechar rapidamente.


Segui para a cozinha, abri a portinha do fogão à lenha e o braseiro do dia anterior ainda estava  vivo, sob as cinzas. Abri a caixa da lenha, coloquei alguns gravetos secos e mais lenha para reavivar, um assoprão e voltou a chama forte, queimando  os pedaços de lenha, aquecendo a chapa do fogão, a chaleira de ferro com água e principalmente a alma deste gaudério. A chaminé não estava puxando bem. É só dar uma vassourada na chaminé para soltar o picumã. Pronto! Fumaça para fora e calor aqui dentro.


Preparo a cuia do mate com dois raminhos de carqueja. Faz bem para o interior do vivente. Pinhão e amendoim espalhados na chapa do fogão aquecem para acompanhar o chimarrão. Liguei o rádio que está sempre sintonizado na estação que toca música nativista e galponeira. Ouço Adair de Freitas, cantando De Já Hoje. Logo em seguida José Cláudio Machado com Previsão de Vaqueano, tocou também Tropa de Osso com Luiz Carlos Borges e Veterano em belíssima cantoria de Leopoldo Rassier.


Observo a geada derretendo, os raios do sol no horizonte que aparecem tímidos, clareando a vida. Mas hoje não é dia de lida. É dia de matear, prosear e quem sabe dar de costados num balcão de pulperia para tirar a poeira da garganta com um liso “daquela que mata o guarda”, com diz os versos da música Recursos da 28. Afinal, com a guaiaca recheada não tem china pobre, nem garçom de cara feia e muito menos gigolô sem cigarros. 


O mate está bom, de uma erva cancheada lá de Rio Poço, interior de Erechim. Sirvo mais uma cuiam, abro a porta e sinto o vento gelado igual à assombração em noite de inverno. Sigo andando pelo pátio quebrando gelo com as alpargatas. A passarinhada ainda não se manifestou.  As saracuras quietas e os quero-quero nem um pio.


Buenas, vou evitar a friagem no lombo. Não quero ficar com a boca torta e nem pegar pneumonia, que anda levando a velharada para o Patrão Véio lá de cima. Daqui a pouco preparo uma gemada bem batida e misturo no leite com uma folha de laranjeira. Um santo remédio para iniciar a lida, dar ânimo e esquecer da amada que se foi na garupa de outro.







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