segunda-feira, 18 de maio de 2020

Dia de visita da Capelinha

 Dia de visita da Capelinha



Alguém vai lembrar quando a “Santinha” chegava. Principalmente nas comunidades católicas as famílias receberiam a “Capelinha” com imagem de Nossa Senhora. A ilustre visitante ficava 24 horas na casa de cada família, trazendo seu alento, sua fé, sua esperança. 

Era uma visita esperada com ansiedade por todos, não se podia atrasar a entrega e os que esperavam ficavam na porta de casa no dia marcado. Geralmente às seis da tarde se levava na cada dos vizinhos, que sabiam de antemão o dia agendado e nesta noite as famílias se reuniam, rezavam o terço, renovavam suas esperanças, sua fé, agradeciam graças alcançadas e faziam novos pedidos em suas orações.

Era um momento de união de pais e filhos em torno da imagem e das orações. A Capelinha ficava até às 18h do dia seguinte e durante todo o dia tinha seu lugar de destaque, principalmente na sala.

Estou falando de uma tradição que testemunhei e vivi há cinco décadas. Possivelmente em pequenas comunidades ainda haja esta prática de amor, de fé e de esperança, esta prática saudável mentalmente para os tempos de hoje. As novas gerações não levaram isto adiante.


domingo, 17 de maio de 2020

Tomar banho no Chuveirão de Jaguaruna

 Tomar banho no Chuveirão de Jaguaruna


Para os próximos 12 meses já defini minhas metas: Vamos lá, sem loucura. Após passar a epidemia, que deve ir longe ainda, pretendo retomar algumas metas para este ano.

Uma delas é ir tomar banho no Chuveirão de Jaguaruna, importante ponto turístico do sul do Estado. Só passei perto,a lo largo, mas nunca exibi meu corpinho embaixo daquela ducha de água fria que deve ser deliciosa no verão escaldante.

Esta vontade atormenta meus pensamentos há 20 anos pelo menos. Vou contextualizar. O Luiz Henrique era prefeito de Joinville, eu era o secretário de Comunicação da Prefeitura e finais de semana percorríamos o Estado para preparar o terreno de sua  futura candidatura a governador em 2002. E num final de semana fomos a uma corrida de caminhões em uma praia do sul, onde o ex-deputado Manoel Mota era um dos “pilotos”. Dada a largava era uma poeira só de areia. Caminhões envenenados, equipes no pit stop, enfim nada perdia para o circo da Fórmula 1. “Este é um evento internacional” - exagerava LHS.

Aproveitamos para alguns contatos políticos, mais uma festa popular em Araranguá e deveríamos seguir de volta para Joinville no final da tarde de um domingo. Mas Luiz Henrique tinha umas manias de oportunizar crescimento. Nas viagens me dizia que eu deveria viajar mais, conhecer países, porque só assim a gente conhece a cultura dos povos e das pessoas. Assim fazia. Em Viena me levou a museus e palácios, que ele já conhecia, mas fez questão de eu fosse visitar. Assim foi em vários lugares do mundo.

Em se tratado de Santa Catarina, aqui tudo era melhor. Nossa Serra do Rio do Rastro era mais bela que o Grand Canyon, Joinville era mil vezes melhor que muitos países só não tínhamos um time à altura do Manchester United, e assim por diante. Nosso vinhos de altitude se igualam aos melhores do mundo e as queijarias do Oeste nada perdem para os franceses.

Voltamo pela BR- 101 eu já cansado louco para chegar em casa e ainda faltavam mais de 300 km. Aí ele ordenou ao motorista. Entra aqui em Jaguaruna o Benhur precisa conhecer o chuveirão. Pensei: ahhh essa não” Mas fiquei quieto. Entramos e lá estava o monumento azul jorrando água como as termas de Caracala.

Passamos, olhamos, ele queria descer para me mostrar, Intercedi argumentando que era tarde e que futuramente eu iria conhecer melhor e me banhar. Ficou meio desapontado e seguimos viagem de volta para Joinville. “Vou fazer o asfalto do Camacho e isto aqui se valorizar muito”, profetizou.

Então já coloquei na minha lista de prioridades: banho no Chuveirão de Jaguaruna com direito a selfie, fazer uma tatuagem do Darth Vader, visitar os Sete Povos das Missões (RS), retornar a Montevidéu para tomar uma chimarrão na rambla, subir na Serra do Corvo Branco, fazer rafting no rio Cubatão de Santo Amaro da Imperatriz.

Verão de 2021 me aguardem. Farei a selfie no Chuveirão.


sábado, 16 de maio de 2020

56

 56


Cheguei mais do que poderia imaginar. Para alguém que nasceu doente de 7 meses e recebeu extrema unção, até que vivi bastante,


O destino escrito era ser nada. Mas as linhas da vida permitiram algo mais.


Sinceramente? Na trilha da vida, de carreira, cargos nada importa.


O que é melhor, gratificante e que faz sentido a cada instante? São meus filhos. Dois sujeitos fantásticos que me fazem companhia, cuidam de mim e que se preocupam com meu bem estar.


Daqui 12 meses espero estar aqui recebendo os cumprimentos dos amigos. De coração,  obrigado à todos pela lembrança.



quinta-feira, 14 de maio de 2020

Cara de cavalo é furto do Ricky Martin

 Cara de cavalo é furto do Ricky Martin



  • Vai no hipódromo?

  • Vai a pqp!

  • Qual será o páreo para a corrida da tarde?

  • Vá pro inferno!

  • Abriu uma casa de apostas pela parabólica ali no centro. Tem corrida de cavalo de Rio de Janeiro e da Argentina.

  • Cala a boca que te meto a mão na cara.

Estes diálogos eram comuns no bullying que fazíamos com um colega de trabalho. Lá por 1987 eu integrava a equipe de comunicadores da Rádio Atlântida FM de Pelotas cuja estrutura é bem enxuta. Apenas seis locutores/operadores. E tinha um dos colegas que preservo o nome real, vou chamado de Fernando Cara de Cavalo. É que sua face lembrava algo similar com o dito animal. Gente boa o cara mas já estava traumatizado com aquilo.

Além das piadinhas, um dos colegas gozadores às vezes trazia um pastinho, milho e deixávamos na bancada só para ver o doido relinchar de raiva.

Porém o causo não se trata do focinho dele mas sim do misterioso sumiço de um cãozinho.

É que o Fernando Cara de Cavalo se apaixonou por uma garota ali do Areal. Estava todo bobo. Fugia da programação e colocava músicas que ela gostava, contrariando o coordenador da emissora, mas enfim, era amor demais.

Num belo, meu horário era das 6h às 10h e o colega assumia depois disso e ficava até 14h. Mas só que lá pelas 10h da manhã começou um zum zum na recepção e gente falando alto exigindo entrar para tirar satisfações do colega que estava no ar. Foi informado que era impossível entrar e que esperassem até às 14h quando ele sairia. E ele foi informado da visita e que estariam esperando. Bateu o desespero.

Dali em diante ele ficou imaginando uma forma de sair do prédio sem ser visto e correr para casa. Nós não sabíamos dos motivos da procura, mas ele sabia o que havia feito. Ele olhou a janela de vidro colado do estúdio. Sem chances de sair. Para dar no pé pela saída dos carros precisava descer a escada e passar pela recepção.Do outro lado pelo salão de festas nem pensar. Não tinha saída. A única alternativa era pular do segundo andar pela janela  da redação onde eu ficava, mas era um risco de queda de uns 4 metros talvez.

Chegada às 14h, houve a troca de locutores e o personagem veio na minha sala se aproximou da janela nas minhas costas e disse. “Fica quieto depois te explico”. Deu um jeito de descer segurando num cano desses de calha. Conseguiu descer, correu pelo gramado e pulou a cerca de tela e saiu levantando poeira. Poucas testemunhas.

Meio hora mais tarde ligaram da recepção perguntando se o fulano estava saindo que as pessoas ainda estavam lá. Informamos que havia ido embora e que sua escala de trabalho agora seria dali dois dias das 2h às 6h da madrugada. Não havia celular e nem telefone para avisar. Os protestos em voz alta recomeçaram e queriam falar com alguém. Curioso desci as escadas, me apresentei e perguntei do que se trata, se poderia fazer algo por eles.

  • Me admiro que vocês contratam gente deste tipo- gritava uma moça de uns 17 anos.

  • Se acalme, o que houve não estou sabendo de nada. O que o colega fez? Questionei.

  • É um ladrão de cachorros. Ele roubou meu cachorrinho um poodle e deu para a namorada dele. - explicou a garota acompanhada dos pais e uma senhora mais de idade possivelmente a avó.

  • Mas como você sabe que o cachorrinho é seu e que ele deu para a namorada?

  • Este sem vergonha não sabe que a Dirce é minha prima e moramos na mesma rua. Ele passou na frente da minha casa viu o Rick Martin (nome do cachorro devido ao sucesso dos Menudo), levou e deu de presente para minha prima. Minha vó viu tudo. Quero o Rick de volta.

  • Mas você não pode pedir que sua prima devolva o Rick?

  • Não! Ela disse que é presente de noivado, de compromisso e que não quer nem saber - explica.

  • Ahhhh. Entendi, mas não podemos fazer nada sobre isso. É uma questão particular e posso falar com ele quando ele voltar a trabalhar. Pode ser assim?

  • Eu quero é fincar minhas unhas na cara dele.

  • Me contive. Quase que eu aconselho: “Traga uma escova de palha de aço naquelas que se usa para pentear crinas de cavalos que mais gente vai te ajudar a alisar o pelo dele”.

 Este causo é verídico, verdadeiro e pode ser testemunhado pela minha colega e amiga Rosany, pois trabalhávamos juntos.






quarta-feira, 13 de maio de 2020

Nilton César e Ronnie Von

 Nilton César e Ronnie Von



Eu nem sabia quem eram, mas gostava de ouvir até furar o disco. Tinha uns 4 ou 5 anos e passava as tardes sentado no chão encerado e lustrado da casa de madeira  ou na poltrona do pai, que estava trabalhando. Tínhamos uma eletrola Victor ou General Eletric. Ítem de luxo, um móvel bonito que ficava como destaque  na sala (antes de existir TV). Abria-se as portas e ali dentro havia um possante rádio em ondas médias e curtas que pegava estações de todo o mundo. E uma gaveta com toca-discos. Nas laterais nichos para colocar os elepês e compactos de 33 ou 78 rotações por minuto. Na parte de baixo os alto-falantes cobertos por fina cobertura de uma seda perfurada. Coisa de luxo.

  • Não vai mexer e estragar o móvel do teu pai - recomendava a mãe. Mas eu era cuidadoso com estas coisas.

 Ela continuava na máquina de costura e eu me entretia na sala com os discos. Havia uma coleção de MPB em fascículos, outra de música erudita, muitos 78 rotações de tangos e boleros e dois disquinhos meus preferidos: Nilton César - A namorada que sonhei e Ronnie Von - A Praça.

Até hoje me pergunto as razões de eu gostar destas duas músicas e escutar várias vezes. Vai saber o que se passa na cabeça de um garoto de 4 ou 5 anos. Talvez eu gostasse da sonoridade, do estilo e da fantasia de uma época que não existiam clipes ou TVs . Os artistas a gente conhecia das revistas, de jornais ou só ouvindo. As novelas eram no rádio.

Mas era satisfatório e prazeroso ouvir Nilton César com seu sotaque carregado do R cantando : “Receba as flores que lhe dou/ Em cada flor um beijo meu/ São flores lindas que lhe dou/ Rosas vermelhas com amor/ Amor que por você nasceu” E assim ia. Terminava a faixa eu colocava de novo para desespero da mãe da vó.

E do Ronnie Von uma musiquinha quase infantil A Praça: “Hoje eu acordei com saudades de você/ Beijei aquela foto que você me ofertou/ Sentei naquele banco da pracinha só porque/ Foi lá que começou o nosso amor!. Pois é. Os dois ficavam roucos de tanto repetir para eu ouvir de novo. A agulha da eletrola furou os dois disquinhos e o “diamante” da ponta da agulha gastou.

Vá entender o gosto musical aos 4 ou 5 anos.


terça-feira, 12 de maio de 2020

Hollywood e o Alto Uruguai

 Hollywood e o Alto Uruguai


Vocês devem estar tentando descobrir qual a ligação que existe entre Erechim fundada há 102 anos e Hollywood, distrito de Los Angeles que abriga a indústria cinematográfica onde foi produzido o primeiro filme  em 1910. Ora, são os personagens que explodiram em sucessos de bilheteria no mundo todo. Não é loucura não. Nem estou caduco. Leiam e comprovem os fatos.

Para quem gosta de cinema e já acompanhou grandes produções vai lembrar de filmes como O Silêncio dos Inocentes, Dragão Vermelho, Hannibal e Hannibal - a Origem do Mal estrelados pelo excelente Anthony Hopkins, um psiquiatra e ex-cirurgião que tortura, mutila e come suas vítimas. Elabora pratos sofisticados para seus convidados.

Outro personagem famoso em todo mundo foi o mais famosos serial killer Jeffrey Dahmer, sujeito desalmado, assassino terrível que matava por satisfação. Teve sua história, também contada por Hollywood.

A indústria do cinema romantizou outro bandido famoso Sundance Kid. Começou sua carreira aos 15 anos como ladrão de cavalos, o que seria hoje ladrão de carros. Mais tarde conheceu Butch Cassidy e esta dupla tocou o terror nos Estados Unidos por anos tendo inclusive seguido para Argentina, Peru, Chile e Bolívia onde morreu após um assalto dar errado ao trem pagador.

Mas estes três personagens eternizados em produções de Hollywood não eram novidades para a turma de Erechim, Jacutinga e Campinas. Muito tempo antes tivemos nossos bandidos locais e desconfio que Hollywood os copiou e transportou para a tela de cinema.

Vamos ao início do século Tivemos o Nino Bandoleiro (Alcides de Oliveira) que aterrorizava a região com assaltos, furtos, principalmente nas propriedades rurais ali para os lados de Campinas do Sul tendo chegado até Getúlio Vargas. Rápido no gatilho igual Sundance. Não temia em atirar e usava artifícios como disfarces. Este seria o Sundance Kid ou até mesmo o nordestino Lampião (Virgulino Ferreira).


Outra figura foi o Come Gente (Ignácio  Irwaczinski), que se aproximou de uma família de colonos, matou o patrão e comeu com polenta às margens de um riacho. Este seria nosso Hannibal Lecter e por último o serial killer, principalmente de garotos que a indústria do cinema retratou com Jeffrey Dahmer que matava, mutilava e também praticava canibalismo com o corpo de rapazes principalmente. Este seria nada mais nada menos que o  Luiz Baú que há 40 anos aterrorizou a região.

Acreditam agora? Boa terça-feira e vou fechar as portas e janelas, vai que …...







sexta-feira, 8 de maio de 2020

Querem roubar minha merenda

 Querem roubar minha merenda



A primeira tentativa de me enviarem a escola foi infrutífera. Não que eu não gostasse de aprender ou era indisciplinado. Nada disso!

Me matricularam no “lariscola” e após adulto que procurei saber o que era este nome estranho. Daí concluí que era uma creche chamada Lar Escola, que ficava ali  na rua Padre Feijó, esquina com a Sarandi, em Erechim, onde hoje tem uma igreja.

Mas voltando ao “lariscola” a minha irmã Pepita é que tinha o trabalho de me arrumar, preparar o lanchinho que levava na lancheira. Eu gostava muito de merenguinhos feitos em casa no forninho do fogão à lenha. Uma delícia. 

Lembro que ao entrar na sala deixávamos os brinquedos e a lancheira em cima de uma mesa próximo a porta e seguíamos cada qual para seu lugar. Ali tínhamos atividades de creche, brincadeiras no pátio, desenhos e nos divertíamos com brinquedos em determinadas horas.

Mas desconfiado de deixar minha lancheira carregada de merenguinhos naquela mesa não me deixava tranquilo. Volta e meia eu ia até o mesão ver se não tinham metido a mão Nada me fazia concentrar nas atividades,nem desenhos, nem brincadeiras, nem caminhão de bombeiros. Meu olhar fixo de psicopata mirava minha lancheira. Alí estavam  meus preciosos merenguinhos. Eram tostados, dourados crocantes por fora e cremosos por dentro. Cada mordidinha uma explosão de sabor.

Mas a gota final foi um dia que vi a professora mexendo no mesão. Na minha mente macabra ela estava tentando pegar meus merenguinhos. Imagina, Uma ladra e eu ficaria sem os preciosos. Tive um plano infalível. Imaginei uma missão difícil. Resgatar minha merendeira e mantê-la comigo. 

Não tive dúvidas, esperei ela ir para o canto da sala atender outra criança e deslizei pela cadeira até o chão embaixo da mesinha,  quando eu me rastejei por baixo das mesas para chegar até a lancheira e verificar minha preciosa carga. A professora me pegou com a boca na botija como diz o ditado, mas no meu caso com a boca no merengue, literalmente. Pela orelha me conduziu, carinhosamente, até meu lugar. 

Eu sei, tenho certeza!. Ela queria meus merenguinhos, ninguém me tira isso da cabeça. Não deu certo a primeira tentativa de ficar na creche. Voltei à escola anos depois na Escola Estadual dos Subúrbios, hoje João Germano Imlau. Não precisava levar merendeira. Serviam pratões cheios no meio da manhã e com o frio e geada nesta época do ano estava aí o estímulo. 





SP2, ESCOLTA E DESCONFIANÇA

 SP2, ESCOLTA E DESCONFIANÇA


Após minha formatura larguei meu trabalho na RBS-TV e Rádio Atlântida FM em 1988 e decidi seguir para Brasília. Era o ano da Constituinte e havia muito trabalho na capital federal com reais chances de crescimento. Faltavam jornalistas pois o mercado de comunicação estava efervescente.

Falei com o Cícero Moraes que era o gerente executivo e falei de meus planos. Pedi que as portas ficassem abertas caso eu voltasse. Conversa boa, pois as portas ficaram abertas e voltei um tempo depois para um cargo melhor.

Juntei todo meu patrimônio em uma mochila verde que ainda tenho como souvenir. Preparei tudo e embarquei sem lenço e sem documento no ônibus da Princesa do Norte. Após 36 horas desembarquei na rodoviária e tomei um táxi. Exibido falei ao chofer: - Hotel Nacional, por favor. O baiano me olhou viu minha indumentária e respondeu educadamente: Sim doutor. Em poucos minutos chegamos no imponente Hotel Nacional que na época era o melhor, onde se hospedavam delegações internacionais, senadores, deputados, empresários de grande porte. Hoje está decadente, mas há 32 anos era o top.

Me hospedei e do quarto liguei para o colega Gilnei Lima. Era tempo do telefone fixo para o apartamento dele. Havia dito a ele, que iria. E telefonei;

  • Gilnei, aqui é o Benhur, cheguei - disse.

  • Tá onde, vou te buscar - respondeu

  • Estou hospedado no Hotel Nacional - devolvi

  • Tá louco. A diária é teu salário do mês. Faz o seguinte. Desce rápido, cancela a diária e inventa que você vai ficar aqui em casa. - orientou

Meio assustado desci, falei do ocorrido, e o recepcionista consultou o gerente. Me cobraram só uma taxinha por ter usado o chuveiro e a toalha. Ufa. Ainda bem. Ele falou com a esposa, explicou minha situação e me levou para casa deles na 313 sul, lugar bacana. Um dos empregos dele era só para pagar o aluguel do apartamento de três dormitórios e dependência de empregada que era maior do que muitos apartamentos populares.

Instalado no domingo de manhã, almoçamos e de tarde eu já estava emprego no Correio Braziliense. Na segunda me arrumaram emprego na Rádio Capital. Vantagem de ter sorte e amigos.

Mas depois voltei, para assumir a chefia de jornalista da RBS TV em Pelotas, já que as portas ficaram abertas e o Cícero precisava de alguém. Mas esta introdução é para contar o causo de uma época sem celular, sem telefones e a satisfação de ter amigos e viver plenamente.

Voltei e uns tempos depois o Gilnei veio de férias. Passou na TV e combinamos sair de noite tomar uma Brahma no Laranjal, onde eu morava. Me apareceu com um possante SP2, um esportivo da Volks fabricado por pouco tempo nos anos 70, mas ainda um clássico.

Fomos no Balneário Santo Antonio, bebemos algumas, comemos peixe frito e outras coisas de boteco, conversamos e planejamos seguir para o centro, dar um rolê na avenida nos bares como Tulha e outros na volta do estádio do Pelotas, que era cheio de bares e restaurantes embaixo das arquibancadas.

Entramos no SP2 Gilnei bota a chave na ignição dá partida e nada. O carro só geme. - nhonhonhonho. Foi uma coisa de abrir o capô, ver as velas, dar uns tapas na bateria.Nda. Sem chances. Como já estávamos meio tontinhos decidimos então ir para casa e dormir. Abandonamos a epopéia. Mas ele não queria deixar o carro ali na avenida do Laranjal. Teve a idéia brilhante de empurrar o carro até lá em casa. Dava uns mil metros. Eu morava ali perto do Mercado Hilda, na avenida Rio Grande do Sul.

Já era mais da meia noite. Os dois empurrando o SP2, mas apareceu uma guarnição da Brigada Militar. Nos fez parar para verificar a atitude. Dois caras no silêncio da noite empurrando um carro. Pode não ser, mas parece que estavam roubando o carro.

  • Boa noite senhores - interpelou o policial

  • Boa noite senhor- respondeu Gilnei meio afastado. Felizmente não existia bafômetro.

  • O que houve? 

  • Sem bateria, tentamos tudo, mas nada.

  • Por favor os documentos seus e do carro - requisitou o brigadiano

Gilnei começou a rir de nervoso. Tenta explicar. - Não tenho aqui deixei tudo em casa, Mas vamos levar o carro até ali na casa do meu amigo e deixar ali.

O brigadiano então disse que iria nos escoltar até minha casa, pegar os dados e daria um voto de confiança. Assim o fez.

Era tarde, embalados pelas Brahmas dormimos. Na manhã seguinte fui trabalhar e Gilnei ficou lá tentando fazer pegar o SP2.

Até aí tudo bem Difícil foi explicar para a esposa que não estava aprontando, Imagina a cara dela ouvindo a explicação.

  • Fui na casa do fulano, tomamos algumas cervejas, o carro não pegou empurramos mais de 1 km, fomos escoltados pela Brigada que nos liberou e dormi no sofá pequeno com os pés para fora.

Agora te pergunto. Você acreditaria? Acho que até hoje ela não crê nesta história, Mas é a mais pura verdade. Pior que na época ela pensava que eu havia o levado à perdição. KKK


quarta-feira, 6 de maio de 2020

Este ônibus passa em Gaurama?

 Este ônibus passa em Gaurama?


Há muitos anos, quando nem existia asfalto de Erechim até Marcelino Ramos, a RS 331 era um atoleiro só. Os 53 quilômetros levavam várias horas para se fazer este percurso, passando por Gaurama, Viadutos e chegando na estância hidromineral de Marcelino Ramos, divisa com Santa Catarina.

Mas este causo é de um polaco que gostava de uma cachaça e pegava o ônibus ali na rodoviária velha, quando era na esquina das ruas Alemanha com Aratiba embaixo do antigo Hotel dos Goela hoje Alphaville.

Mas Boleslau vinha são, sem uma gota de cana pela manhã, bem cedinho no ônibus da Praia Bonita que fazia a linha. Vinha com um saco de algodão bem alvejado cheio de queijos. Já tinha clientela formada, vendia tudo, pegava os troco, passava no Zordan ou no Sonda, comprava o que precisava e final da tarde voltava a pegar o último ônibus para Marcelino, que passava pela localidade onde morava.

Mas o polaco gostava de uma branquinha. Tomava pura, sem gelo, estilo cowboy. Descia rasgando a garganta e cada gole dava uma tremida no espinhaço do polaco que virava o “martelinho” e falava alto ao bodegueiro: - Mais um Mercedinho”. Lá se ia mais um pila.

Conhecido de todos,quando estava na hora de saída do ônibus o próprio cobrador gritava de dentro do carro: - Vamo imbora polaco. Tamu saindo. Lá vinha ele trocando as patas e com dificuldade subia os 4 degraus do ônibus Mercedes da Incasel. Carro forte, que aguentava a buraqueira.

Certa tarde Boleslau estava muito atrapalhado. Para azar do motorista ele sentou ali do lado esquerdo na primeira poltrona, onde geralmente fica o cobrador do ônibus. Estava cansado, azul de tanto “martelinho”.

O motorista rezou o rosário de início.

  • Fica bem quieto, não vomita no meu carro que te deixo na porteira!.

  • Tá bom. - Concordou Boleslau com um bafo de múmia de dois mil anos.

Para piorar além da cachaça se atracou num vidro de ovo de codorna que estava no balcão. Por aí vocês imaginam.

Avisado foi, mas não se conteve. Mal o ônibus arrancou ele começou:

  • Motorista. Este ônibus vai para Gaurama?

  • Vai sim polaco. Fica quieto descansa - Garantiu o motorista.

  • Mas você tem certeza de que passa em Gaurama? insistiu.

  • Tenho sim, sou o motorista faço esta linha há 10 anos, respondeu pacientemente o chofer;

E assim foi por uns 15 minutos o polaco perguntando a mesma coisa.

Chegando logo após a Florestinha, antes do trecho da BR- 153 o polaco se levantou e bem alto questionou:

  • Este ônibus vai passar em Guarama? Já nem conseguia mais pronunciar o nome da cidade. E o motorista puto dos cornos com o passageiro respondeu:

  • Não, polaco, este ônibus vai para a puta que te pariu!

  • Mas e depois da puta que pariu ele vai passar em Gaurama?

Só se ouviu  o freio- motor, solavanco da parada, o hidráulico da porta abrindo e a polvadeira que não se via um palmo diante do nariz.

  • Desce polaco. Chegamos em Gaurama. Segue reto nesta estrada dá uns 20 km você está em casa.

Ônibus e os passageiros seguiram. O Polaco? Após 20 km de caminhada em estrada de chão certamente curtiu a ressaca e chegou em casa bem bonzinho.

Na semana seguinte comportou-se. Vendeu os queijos,bebeu graspa, mas se sentou lá nos fundos. Bem quieto.


O dia em que virei ministro

 O dia em que virei ministro



Espera. Não é fake e nem é verdade. Era o ano de 2002, quando Fernando Henrique era presidente e o Marco Tebaldi era prefeito de Joinville. Luiz Henrique, estava em campanha para governador, pois  havia renunciado em abril e Tebaldi assumiu o cargo. LHS tinha grande prestígio com o presidente. Era atendido sem ser anunciado. Acho que o Gayoso estava junto e que não me deixará mentir sozinho.

Na época quando ele era prefeito íamos a Brasília todas as terças-feiras tratar de assuntos do município junto a ministérios, autarquias, bancos e às vezes passávamos no Planalto ou Alvorada para uma conversa com FHC. Aquilo sim era presidente que honrava a nação. Polido, bem formado, educado um cavalheiro. 

Mas este causo foi mais no final do ano e numa quinta-feira às 22h. Ninguém acredita que alguém estivesse trabalhando num horário desses. Era quando o ministro dos Transportes João Henrique Almeida de Souza, piauiense iria nos receber. Na pauta desvio ferroviário, duplicação da BR 280 e talvez cessão do patrimônio da RFFSA para o município, que depois Tebaldi fez a restauração da Estação Ferroviária completamente.

Após uma maratona de dois dias em ministérios, Congresso no calor infernal do cerrado brasiliense estávamos na audiência. LHS, Gayoso, Tebaldi, senador Casildo, eu e acho que algum deputado federal que não lembro o nome. Afinal se passaram 18 anos.

Todos cansados, subimos pelo elevador e o chefe de gabinete disse que em breve o ministro nos atenderia que estava em outra audiência. Eu nem pensava mais de cansado, sono e fome. Parecia o apocalipse. Sentados nas cadeiras da sala de audiências em uma mesa para 20 lugares. Cheguei, coloquei minha mochila no chão, exausto e enchi um copo com água, o copeiro havia deixado a jarra e os copos. Recostei a cadeira para trás, me espreguicei e doia cada fio de cabelo, músculos e até a pele. Quem cobre política e governo sabe do que estou falando. É uma coisa de sobe e desce de carro, sobe e desce de elevador, acompanha audiência, anota, grava, escreve, manda, telefona, enfim é pior que descarregar um caminhão de erva mate numa tarde de sol.

Mas em certo momento notei um silêncio e o sorrizinho malicioso de todos que olhavam para mim. Me achei! Pensei que estava agradando e comecei a contar uns causos para descontrair, mas eis que LHS fala alto:

  • Boa Noite ministro, obrigado por nos receber. Quem está em seu lugar é o Benhur, um brilhante jornalista que trabalha conosco. Na hora passou a canseira, me levantei e dei lugar na ponta da mesa ao dono do lugar.

Só restou ao ministro também rir da situação e a mim procurar outro lugar no lado oposto do mesão e prestar atenção na audiência.;

Enfim, por alguns minutos fui Ministro dos Transportes. Ou melhor, sentei na cadeira do ministro.