Eu conto ou você conta?
Campanhas eleitorais rendem muitas histórias. Numa das campanhas eleitorais que participei Por Toda Santa Catarina ocorreu este fato verídico, verdadeiro e testemunhal. Tínhamos uma equipe pequena, coesa e competente.
Fui escalado para subir o Planalto Serrano e cobrir os eventos do candidato na região. Marcamos a saída na sede do QG às 6h para ir despacito morro acima. A equipe composta por motorista, fotógrafo e o repórter de texto. O jornalista geralmente vai no banco traseiro e lá me instalei. Livro na mão e fones de ouvido para escutar músicas sem incomodar os outros colegas. Sempre levava uma pequeno travesseiro para o tradicional cochilo em longos trechos.
Saímos do centro de Florianópolis e seguimos pela BR 101 rumo ao sul para subir a 282 por Santo Amaro, Rancho Queimado e chegar em Lages.
Mas ao atravessar a ponte o motorista perguntou se poderia parar em Forquilhinhas, em São José antes de engrenar a viagem. Precisava pegar algo em casa. Tudo bem. Concordei e meti o focinho no livro, fones de ouvido escutando a CBN Diário.
Chegamos na casa do colega e nem dei bola, fiquei lendo sem saber onde estávamos. Mas o fotógrafo me cutucou e disse: Olha só. Não acredito! - Fechei o livro, tirei os Rayban, dei uma longa olhada e concordei. Vieram recepcioná-lo duas belas jovens vestidas apenas com shortinho minúsculo, blusinha curta e rasteirinhas. Eram de saltar os butiás dos bolsos. Mais bonitas que laranja de amostra. O motorista retornou e perguntei quem eram as duas moças: Uma era namorada e outra irmã. Pensei, como este galo cego está bem servido assim. Quase analfabeto, vesgo e meio burro casado com uma garota dessas. E a irmã..Salve!
Seguimos viagem na 282, conversamos pouco sobre futebol. Ele era Figueirense e eu tinha simpatia pelo Avaí. Antes de chegar a Bom Retiro tem um posto de gasolina e parada chamada Janaína. Paramos para esticar as pernas, tomar um café, ir ao banheiro antes de completar o último trecho até Lages.
Voltando ao carro ele comentou que a irmã estava triste pela decepção amorosa e o Posto Janaína era o motivo da desilusão. Antes de trabalhar na campanha o motorista dirigia um caminhão para uma grande rede de lojas e semanalmente fazia entregas no Planalto Serrano, Tabuleiro. Subia pela 282 até Lages, depois retornava por São Joaquim, Serra do Rio do Rastro e 101 até em casa.
A irmã estava namorando um sujeito que estava desempregado e ele propôs levar o cunhado como ajudante para descarregar o caminhão. Fizeram algumas viagens sempre com parada no Posto Janaína. De uns tempos em diante o cunhado sumia. Ia no banheiro e demorava uns 15 minutos, atrasando o roteiro de entregas. Assim foi numa semana, na outra e quando chegou a quinta semana de viagem e paradas de 15 minutos no posto. Apesar de meio tanso, não era totalmente bobo. Toda vez que paravam o cunhado sumia e um frentista do posto também. E saiam do banheiro mais ou menos juntos. Viu, gravou na mente e ficou quieto. Era quinta-feira e seguiram o trecho. Retornaram na sexta, caminhão no depósito e foram embora.
No domingo, como muitas famílias ainda fazem, reúnem todos para o almoço. A diversão aos domingos de manhã era zoar com carros velhos no interior de Forquilhinhas, mas lá pelas 11 estavam em casa para o almoço de domingo.
Já era quase uma da tarde, todos acomodados no mesão montado na garagem. Mesa posta. Galinha assada, farofa, maionese, pão, farinha de mandioca, um pratão de tilápia frita, laranjinha Água da Serra, guaraná Pureza, fabricado em Rancho Queimado e cerveja da mais barata, já que tinha promoção no mercadinho. Quando começaram a se servir o nosso motorista bateu na mesa para chamar atenção de todos. - Toc! Toc! Toc!. Silêncio total e curiosos com o que ele queria falar: Vai anunciar casamento? Ganhou na Mega? Nada disso!
Fulano, eu conto ou você conta? - intimou o motorista ao cunhado.
Tá louco, contar o que? - retrucou o dublê de ajudante e cunhado.
O que você faz nas paradas lá em cima no Janaína com o frentista do posto? - completou.
Rapidamente o cunhado levantou e saiu chispando. Nunca mais foi visto e desde então a garota do shortinho continuava desiludida, solteira e achando que todo homem não presta.